Negro

A bacia do Negro cobre aproximadamente 700.000 km2, uma área maior do que a França, É a terceira maior sub-bacia da Amazônia, com um pouco mais de 10% da drenagem da bacia do Amazonas. O rio Negro possui aproximadamente 2.500 km de comprimento e suas cabeceiras na Colômbia estão a cerca de 3.700 km da foz do Amazonas.

Mais de 90% da bacia se localiza no Brasil; com o restante sendo encontrada em territórios da Venezuela, Colômbia e menos de 1% na Guiana. A maior parte da bacia do Negro é dividida entre os estados do Amazonas e Roraima. Na Colômbia, o Negro cruza pelos Departamentos de Vaupés e Guainía e na Venezuela pelo Território Federal de Amazonas. O Distrito Ministerial Número 6 da Guiana tem uma pequena região de cabeceira, próximo a fronteira com o Brasil.

O Negro drena por três principais regiões: os afluentes mais setentrionais nascem ao sul do Escudo das Guianas no Brasil, as cabeceiras do noroeste se localizam nas encostas Andinas da Colômbia e a maior parte do tributários da margem direita nasce nas florestas de baixada a menos de 200 m. O Pico da Neblina, a montanha mais alta do Brasil, se eleva a mais de 3.014 msnm no extremo oeste do Escudo das Guianas. O divisor de águas das bacias do Negro e Orinoco se localiza nesta região montanhosa entre 2.000 e 2.700 m de elevação. As principais cordilheiras que dividem as duas bacias são as serras Pacaraima e Parima.

O antigo Escudo das Guianas é caracterizado por suas numerosas montanhas de arenito com formato de mesa (tepuis) e suas isoladas colinas de granito (inselbergs). O maior dos tributários do Negro, o Branco, drena uma grande parte do setor sul do Escudo das Guianas. A maior parte dos tributários do Escudo das Guianas possui inúmeras corredeiras em seus cursos mais altos. O Canal do Cassiquiare liga o alto rio Negro ao rio Orinoco na Venezuela. O Negro é formado após a confluência do rio Guainía e o Canal Cassiquiare na Venezuela. A erosão nas cabeceiras desta região desviou a maior parte do fluxo de água do Canal Cassiquiare até a porção sudeste do rio Negro. O principal afluente do rio Negro na Colômbia é o Vaupés, que ao entrar no Brasil ganha o nome de Uaupés. Vários dos tributários ocidentais do Negro no Brasil, como o Urubaxi, nascem nas proximidades da confluência entre os rios Negro e Japurá. Durante a temporada de chuvas, pequenos igarapés conectam as bacias do Negro e do Japurá. As cabeceiras do Negro nascem nas encostas dos Andes a menos de 300 metros de altitude.

A característica que mais chama a atenção do rio Negro é a coloração preta de suas águas. Este é o único grande rio de águas pretas da bacia amazônica e sua contribuição com a descarga anual do rio Amazonas é de 13 a 14%. O Branco, o maior afluente do rio Negro, não é tão barrento quando o Amazonas ou o Madeira, mas é ligeiramente turvo especialmente durante o período das águas altas. A região de drenagem noroeste recebe uma significativa quantidade de chuvas mensais, principalmente de abril até julho. A região ao norte de Roraima é a que menos recebe chuvas, com totais anuais menores do que 1.600 mm. Aproximadamente 2.220 mm de chuvas caem anualmente na região do baixo rio Negro. A época de alagamento do alto e médio curso do Negro vai de dezembro a fevereiro. O nível do rio Negro até a altura da confluência com o rio Branco é controlado pelo efeito de represamento do rio Amazonas. Em contraste com o médio e alto cursos, a inundação do baixo rio Negro ocorre entre fevereiro e julho com o pico de inundação em junho. Os níveis mais baixos de água no baixo Negro são observados entre setembro e dezembro. O nível da água no médio e alto rio Negro cai entre dezembro de fevereiro, enquanto aumenta nos mesmo período na parte baixa do rio. As flutuações médias anuais do rio no alto e médio cursos fica entre 4 e 5 metros, enquanto que na desembocadura, onde tem sido feitas medidas deste de 1902, é de 10 m.

Uma área de aproximadamente 30.000 km2 da bacia do rio Negro está sujeita a inundações sazonais, mas este valor pode ser ainda maior. As duas áreas mais expostas a inundações sazonais são as savanas de Roraima próximas a Boa Vista e uma enorme área de baixada ao norte do Negro entre os rios Branco e Padauari. Nesta última região, são encontradas florestas de copa baixa que crescem sobre um solo extremamente arenoso que permanece alagado por seis meses ao ano. As mais extensas planícies aluviais da bacia do Negro são as encontradas nos tributários da margem direita do rio. Dois enormes arquipélagos com mais de 1000 ilhas fluviais são encontrados no baixo e médio curso do rio Negro. Quase todas estas ilhas são completamente inundadas. As florestas que ficam alagadas de quarto a oito meses por ano dominam as áreas de planície fluvial do rio Negro.

Áreas protegidas

Grande parte das áreas designadas para a proteção da bacia do Negro é composta por Terras Indígenas e Parques Nacionais no Brasil. Os Yanomami ocupam a maior parte da região de cabeceiras dos afluentes ao norte do Negro ao longo do Escudo das Guianas. Vários outros grupos indígenas vivem no setor noroeste da bacia (alto rio Negro) incluindo as regiões do Brasil, Colômbia e Venezuela.

Um dos maiores parques nacionais do Brasil é o Parque Nacional do Jaú que engloba uma área de 22.700 km2 e protege toda a bacia de águas pretas do rio Jaú, localizado na margem direita do baixo Negro. Pescadores que comercializam peixes ornamentais para aquários pescam no interior do parque, mas a pesca comercial é totalmente proibida.

O Parque Nacional do Pico da Neblina, localizado no alto rio Negro, protege as cabeceiras isoladas do Escudo das Guianas. Já o Parque Nacional de Anavilhanas, localizado no baixo curso do Negro, inclui em seus limites mais de 350 ilhas fluvial, sendo a maioria delas coberta por florestas sujeitas a alagamento de seis a sete meses por ano. Além destas paisagens aluviais, o Parque Nacional de Anavilhanas inclui florestas de terra firme localizadas na margem esquerda do rio Negro. Outra importante área protegida é a Estação Ecológica de Maracá, em Roraima, localizada ao longo do Uraricoera, o maior afluente do rio Branco.

Usos e impactos

A região mais amplamente colonizada da bacia do rio Negro se localiza no Estado de Roraima, Brasil. A cidade de Boa Vista se tornou um ponto focal nesta região devido a sua extensiva rede de estradas que conecta a Venezuela, Guiana e Manaus, na Amazônia Central. Esta rede de transporte impulsionou a colonização em larga escala da bacia do rio Branco. Uma intensa estação seca e quente somado à presença de grandes áreas de savana torna quase impossível a tarefa de controlar e extinguir focos de incêndios. Estima-se que cerca de um terço de Roraima já foi queimado. Incêndios das savanas avançam rapidamente para áreas florestadas que queimam facilmente, já que a floresta tropical que cresce na maior parte de Roraima é relativamente seca. A maior parte do desmatamento de Roraima foi causada pela pecuária. A agricultura também está se expandindo rapidamente tanto nas áreas mais altas quanto nas planícies aluviais. Os solos ricos de alguns vales altos também têm atraído agricultores. O arroz é o principal produto cultivado nas planícies de alagamento, enquanto que nas áreas mais altas se cultivam o arroz, milho, mandioca e soja. As florestas ripárias entre o rio Branco e as savanas têm sido desmatadas para dar lugar a plantações de arroz. O desmatamento em Roraima parece ter aumentado a erosão, que por sua vez aumentaram o fluxo de sedimentos no rio Branco. A maior parte dos sedimentos do baixo curso do rio Negro é fornecida pelo rio Branco, incluindo os sedimentos que formam as mais de 350 ilhas do Arquipélago de Anavilhanas. As águas do rio Branco fluem pelo rio Negro através de sua margem esquerda.

Muitas espécies de árvores foram intensamente extraídas das planícies aluviais dos rios Negro e Branco. Madeireiros têm explorado principalmente a Sumaúma (Ceiba pentrandra) ao longo do rio Branco. A exploração madeireira nas áreas mais altas se concentra nas proximidades de centros urbanos. Garimpeiros freqüentemente invadem a bacia do rio Negro, mas a maior parte da atividade de mineração se concentra atualmente dentro ou nas proximidades das terras dos Yanomami em Roraima, chegando inclusive ao território venezuelano.

A principal atividade econômica nos rios de águas pretas da bacia do Negro é o comércio de peixes ornamentais para aquários. O Cardinal Tetra (Paracheirodon axelrodi) é uma das espécies de peixes mais valorizadas para exportação. Esta espécie é encontrada somente no Negro e em alguns poucos tributários de cabeceiras de bacias adjacentes. Nas últimas duas décadas, a busca destas espécies tem se estendido até aos mais altos tributários do Escudo das Guianas para abastecer a crescente demanda para o comércio de peixes ornamentais. A pesca comercial para alimentação em maior escala se concentra no baixo curso do Negro, onde existe a captura de espécies migratórias que se movimentam entre os rios da região em busca de sítios de alimentação e desova. A pesca esportiva do Tucunaré (Cichla spp.) vem se expandindo através da bacia do rio Negro e, em algumas regiões, tem causado conflitos com habitantes locais.

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

 


BACIAS PRINCIPAIS

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Negro
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