Biodiversidade

A grande diversidade de peixes da Amazônia nos vários níveis da cadeia alimentar, talvez seja o principal fator que explica a dominância deste grupo de animais comparado com outros organismos aquáticos. Peixes têm sido bem sucedidos em se utilizar dos recursos alimentares como frutos, sementes, invertebrados e detritos encontrados nas florestas sazonalmente alagáveis, um hábitat que ocupa uma enorme proporção da bacia. A Bacia Amazônica abriga a ictiofauna mais rica em espécies do mundo, mas tradicionalmente um pequeno número destas espécies tem sido explorado na pesca comercial. Das mais de 2000 espécies conhecidas atualmente, menos de 20 respondem por 80% da pesca comercial. A principal razão para isto é que as espécies migratórias são mais fáceis de capturar em grandes quantidades, especialmente quando elas se movem em cardumes migrando pelos canais dos rios.

Apesar da importância dos peixes como fonte de proteína na Bacia Amazônica, a região é relativamente pobre na produção pesqueira considerando o tamanho e a vastidão de suas paisagens aquáticas. Apesar do alto nível de nutrientes dissolvidos em muitos rios, a alta turbidez limita a penetração de luz diminuindo a produtividade. Existem rios com boa transparência, mas que são pobres em nutrientes e que, portanto, também possuem uma baixa produtividade primária. Além disso, as florestas alagáveis interceptam parte da luz que penetra na água limitando a produção de fitoplâncton, ainda que outros tipos de alimento para peixes estão associados a estes ambientes.

A cadeira trófica das florestas inundáveis ou a rede de relações entre predadores e suas presas é extremamente complexa resultando de uma grande variedade de alimentos disponíveis nos sistemas aquáticos e da rica diversidade de peixes. Os peixes mais importantes do ponto de vista comercial dependem fortemente de um ou dois dos seguintes itens alimentares (ainda que todos sejam importantes): outros peixes, detritos, frutos e sementes, artrópodes terrestres e aquáticos e algas. Uma espécie de peixe pode mudar sua dieta em estágios diferentes de sua vida, tornando inadequada a categorização dos hábitos alimentares de uma espécie baseada somente da dieta dos adultos. Plantas herbáceas parecem ter uma importância mínima como alimento, mas algas e artrópodes que vivem associados a elas são muito importantes para peixes jovens e adultos. Durante a fase de alagamento dos rios, insetos, aranhas e outros artrópodes caem das árvores e na água são consumidos por centenas de espécies de peixes. No total, detritos, frutos/sementes e algas são provavelmente os itens alimentares mais importantes em sustentar a pesca comercial na Amazônia. Outros organismos aquáticos podem apresentar algum potencial como recurso pesqueiro como moluscos e crustáceos, mas estes apresentam uma produção baixa na Amazônia, ainda que os últimos tenham certa importância na região estuarina.

Crustáceos

A Bacia Amazônica abriga uma fauna de camarões e caranguejos relativamente rica em espécies, com cada grupo representado por ao menos umas 30 espécies que podem ser exploradas comercialmente. Uma área de paisagens alagáveis de rios de água branca pode abrigar em média 4-6 espécies de camarões e 3-4 espécies de caranguejos que podem ter sido utilizados historicamente como fontes de alimento. Camarões são explorados em pequena escala em toda a Bacia Amazônica, mas comparados com peixes, possuem pouca relevância comercial, com exceção da região estuarina e do baixo curso do Rio Tocantins. A pesca de camarão nas águas interiores esta concentrada nas paisagens aquáticas do Rio Amazonas nas proximidades de Santarém sendo focada em duas espécies do gênero Macrobrachium. Ainda não se sabe em qual extensão a pesca do camarão pode se expandir. Existem algumas experiências de criação de camarões na Amazônia e a inserção de espécies de Macrobrachium neste mercado parece promissora. O camarão do estuário é considerado de melhor sabor sendo vendido salgado nas cidades do interior da bacia. Caranguejos de água doce são raramente consumidos na Amazônia, principalmente devido ao seu reduzido tamanho. Eles são usados principalmente como isca para peixes.

Moluscos

A produção de moluscos é fortemente limitada pelos baixos níveis de cálcio e fósforo e pelo sedimento nas águas turvas na maioria dos rios amazônicos, excluindo-se os rios de água branca e os de água clara como o Tapajós e o Xingu. Existe ao menos uma dúzia de espécies de moluscos nas planícies alagáveis da Amazônia. As mais comuns delas são os caracóis planorbídeos e moluscos bivalves. A melhor indicação da produção de caracóis é a presença do Carão (Aramus guarauna), uma ave grande que se alimenta quase exclusivamente destes moluscos.

Em geral, os amazônidas raramente consomem moluscos, ainda que em algumas áreas do Peru eles sejam apreciados. A arqueóloga Anna Roosevelt do Field Museum of Natural History de Chicago demonstrou, no entanto, que os índios que viviam próximo a Santarém consumiam grandes quantidades de moluscos. Enormes aterros de moluscos foram encontrados em antigas aldeias, mas o tamanho destes depósitos não significa, necessariamente, que bivalves eram mais importantes que outras fontes de proteína, em particular peixes. Conchas de bivalves foram descartadas nos mesmos locais em terra, enquanto que os ossos de peixes podem ter sido descartados na água ou revirados e consumidos por animais terrestres. De uma perspectiva biológica, ainda não esta claro exatamente porque, onde e como estes indígenas capturavam tantos bivalves.

Como recurso pesqueiro, os bivalves de água doce talvez tenham sido subestimados pelos amazônidas modernos e existe algum potencial para eles na aqüicultura. É altamente improvável, no entanto, que os estoques naturais sejam produtivos o suficiente para sustentar operações comerciais em qualquer escala. Alguns caracóis planorbídeos do Rio

Amazonas alcançam mais de 15 cm de diâmetro. Eles sobem em árvores e arbustos para depositar seus ovos acima do nível de alagamento para evitar a predação dos ovos por peixes e outros organismos aquáticos. Estes caracóis provavelmente podem ser criados ou servir como alimento suplementar para peixes criados em sistemas de aqüicultura. Historicamente nos trópicos, subtrópicos e regiões temperadas, os teredos (Bivalvia, Família Teredinidae), moluscos que se alimentam de madeira, têm sido um grande problema para navios e barcos. Estes moluscos se aderem ao casco das embarcações e podem alcançar até um metro de comprimento. Apesar de parecerem com vermes, os teredos são bivalves com as conchas altamente modificadas e localizadas perto da boca para servir como dispositivos para raspar a superfície.