Ictio no Vale do Juruá

Ictio no Vale do Juruá
março 15, 2021 AmazCitSci

O Instituto Fronteiras, organização associada à Rede Ciência Cidadã para a Amazônia, acaba de publicar um relatório de atividades de 2020, contando sobre os avanços com o Ictio na região do Vale do Juruá. Esse trabalho é articulado localmente pela Rede Juruá, composta pelo próprio Instituto Fronteiras, a Colônia de Pescadores Z1 (de Cruzeiro do Sul, Acre) e a Universidade Federal do Acre – Campus Floresta. 

Reunião para apresentação de Ictio na Colônia de Pescadores Z1, na cidade de Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil, em novembro de 2019. Foto: Instituto Fronteiras.

O Instituto Fronteiras, organização associada à Rede Ciência Cidadã para a Amazônia, acaba de publicar um relatório de atividades de 2020, contando sobre os avanços com o Ictio na região do Vale do Juruá. Esse trabalho é articulado localmente pela Rede Juruá, composta pelo próprio Instituto Fronteiras, a Colônia de Pescadores Z1 (de Cruzeiro do Sul, Acre) e a Universidade Federal do Acre – Campus Floresta. As colônias de pescadores são órgãos de classe dos pescadores.

Durante 2020, uma série de ações foi desenhada em conjunto com pescadores. Em reuniões de capacitação, o aplicativo Ictio foi apresentado e instalado em celulares de pescadores experientes associados à Colônia, que podem se tornar multiplicadores da iniciativa. Diante do contexto de pandemia da COVID-19 essas ações de mobilização foram suspensas, rearticulando o foco para a organização do banco de dados históricos da Colônia. Esses dados foram compartilhados com o banco de dados de Ictio a partir da ferramenta de upload.

Esse trabalho trouxe resultados positivos, que respondem aos interesses dos próprios pescadores.  “No caso da Colônia de Pescadores Z1, do Vale do Juruá, os dados coletados são base para mecanismos de acesso à direitos (ex. seguro defeso), captação de recursos (ex. uso de dados da pesca para criação de projetos), planejamento da Colônia, entre outros. Mais do que um arranjo de coleta de dados, a ciência cidadã solicita do pesquisador um envolvimento direto com a rede de pesquisadores comunitários, incentivando o diálogo direto entre as necessidades de pesquisa e as necessidades comunitárias. Este arranjo aproxima a universidade e comunidades locais na cocriação de solução de problemas socioambientais”, ressalta o relatório.

 

O que os dados compartilhados pelo Instituto Fronteiras e a Colônia Z1 nos contam?

As observações compartilhadas com a base de dados Ictio correspondem a mais de 300 toneladas de peixes relatados entre 2018 e 2020. As espécies de peixes com o maior número de quilos registrados foram Curimata inornata, Prochilodus nigricans e Pimelodus sp., respectivamente (para nomes comuns, consulte o glossário abaixo). Os pesos foram estimados a partir das declarações dos pescadores sobre suas capturas médias mensais – que foram somadas e apresentadas como captura anual.

Nossos dados são provenientes do registro da coleta anual de pescadores realizada pela Colônia Z-1 [em Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil] para envio à Secretaria Federal da Pesca. Estes dados abrangem informações sobre a pesca de diferentes pescadores, ao longo de vários dias, em local indefinido. Esses dados foram especificados oralmente por cada pescador, no momento do registro anual. Portanto, não são dados de uma coleta extensa, com bases científicas, mas vêm da experiência cotidiana e da memória de cada pescador. Podem apresentar inconsistências em termos de esforço de pesca, número de quilos capturados por ano, data e local de venda, mas são fidedignas quanto às espécies capturadas. Tendo em vista a falta de sistematização dos dados pesqueiros para esta região, acredita-se que esses dados coletados, mesmo diante de inconsistências, serão de grande importância para o mapeamento da pesca no Vale do  Juruá ”- Instituto Fronteiras.

 

Glossário de espécies, gêneros e ordens mencionadas

  • Curimata inornata: branquinha (Brasil); Ractacara (Equador).
  • Pimelodus sp.: griso (Bolívia); mandi (Brasil); chorrosco, barbudo, picalón (Colômbia); picalón o buluquique (Equador); e bagre cunchi, bagre, cunchi ou zungaro cunchi (Peru).
  • Prochilodus nigricans: sábalo (Bolívia); curimatã, curica ou papa-terra (Brasil); bocachico (Colômbia e Equador); challua (Equador) e boquichico (Peru).