- • Com apoio da WCS, cientistas utilizam dados históricos e modelos para prever impactos de seis barragens andinas, já planejadas e potenciais, sobre o sistema fluvial amazônico.
- • Quase 900 milhões de toneladas de sedimentos seriam retidos pelas barragens, impactando a disponibilidade de nutrientes, e a produtividade agrícola e pesqueira rio abaixo.
- • Outros impactos incluiriam a redução do pulso de inundação natural, aumento das emissões de gases efeito estufa, e aumento da contaminação por mercúrio, culminando em desequilíbrio ecológico, aquecimento global e problemas sanitários.
NOVA YORQUE (23 de agosto, 2017)—Um time internacional de cientistas que pesquisaram os efeitos que seis barragens andinas, já planejadas ou potenciais, teriam sobre o sistema fluvial amazônico, concluíram que impactos ecológicos negativos são esperados tanto a acima quanto abaixo das construções, ao longo das planícies de inundação até a foz do rio Amazonas, de acordo com a WCS (Wildlife Conservation Society), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia, e outros grupos de pesquisa.
Os autores do estudo alertam que, caso não sejam planejadas cuidadosamente, as barragens e outras infraestruturas construídas nas nascentes andinas, podem ter efeitos catastróficos ao longo de toda a bacia do rio Amazonas e também colocar em risco a segurança alimentar de milhares de pessoas.
O estudo “Impactos potenciais de novas barragens andinas no sistema fluvial amazônico” foi recentemente publicado na PLOS ONE.
Os modelos do estudo mostraram que os efeitos mais dramáticos estão na redução prevista de 894 milhões de toneladas por ano de sedimentos carreados ao longo do rio nas seis barragens (Peru: Pongo de Manseriche, Inambari, TAM 40, Pongo de Aguirre; Bolívia: Angosto del Bala and Rositas). Essa redução representa 69 por cento de todo o sedimento carreado para além dos Andes e 64 por cento de todo o aporte amazônico de sedimentos. Estima-se que os impactos se estendam para o canal principal do rio Amazonas, afetando toda a planície de inundação central até a região do delta.
Figura 1. A Bacia Amazônica, indicando a localização das seis barragens planejadas
Os Andes ocupam somente 11 por cento da bacia Amazônica, mas são responsáveis por 93 por cento dos sedimentos e da maioria de nutrientes carreados pelo sistema fluvial amazônico. A dinâmica de sedimentos tem um papel fundamental na formação da paisagem fluvial amazônica, movimentando areia, pedras, solo e nutrientes vindos dos Andes e depositados em outras partes da bacia.
“A redução de sedimentos e nutrientes esperada abaixo das barragens seria catastrófica para a vida silvestre da região assim como para inúmeras comunidades que contam com o rio para suas necessidades agrícolas”, diz Bruce Forsberg, cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazonia e autor principal do estudo.
Como os Andes é a principal fonte de sedimentos para o sistema fluvial amazônico, a consequência dessa redução massiva será dramática: os canais principais dos rios ficarão mais profundos, o que reduzirá a amplitude das inundações sazonais necessárias para o carrear sedimentos e nutrientes para as planícies de inundação, e para a manutenção da conectividade entre os diferentes ambientes utilizados por espécies migratórias de peixes e pelos habitantes locais.
A redução de 69 por cento dos aportes de nutrientes vindos dos Andes também irá provocar uma queda nas quantidades de fósforo e nitrogênio na ordem de 51 por cento e 23 por cento, respectivamente, de acordo com o estudo. Fósforo e nitrogênio são nutrientes fundamentais para a produção agrícola e aquática ao longo do canal central da planície de inundação amazônica e das regiões do delta, ambas importantes áreas para a segurança alimentar local.
O declínio dos níveis de fósforo deve reduzir a abundância do fitoplâncton (algas microscópicas) e de peixes que se alimentam dele, espécies que representam 40 por cento do comércio de peixe regional. A redução de nitrogênio também deve reduzir a fertilidade do solo e como consequência, a produtividade agrícola abaixo das barragens, levando a uma grande dependência de fertilizantes químicos.
Baseado em análises de variações hidrológicas rio abaixo da barragem de Balbina, de 29 anos, e da barragem de Tucurui, 26 anos, ambas na Amazônia brasileira, e no conhecimento da morfologia do canal rio abaixo das barragens planejadas na região dos Andes, os cientistas preveem que a maior parte das planícies de inundação a jusante desses empreendimentos podem secar permanentemente. Modelos que simulam a relação entre a área de inundação e a produção pesqueira mostram que a redução dessa área reduzirá consideravelmente a produção pesqueira, ameaçando a segurança alimentar regional.
Os autores ainda acrescentam que as agências governamentais e não-governamentais dos países amazônicos precisarão colaborar em suas diversas disciplinas para garantir que os benefícios potenciais do desenvolvimento não se deem às custas da segurança alimentar regional e da integridade do ecossistema amazônico.
O governo peruano decidiu temporariamente não implementar as grandes plantas hidrelétricas projetadas para a Amazônia peruana. Essa decisão não se baseia somente na atual abundância energética do país, mas também em preocupações sobre a baixa eficiência de grandes reservatórios e os impactos ambientais desses projetos, temas centrais desse estudo. Pesquisas comprometidas e interdisciplinares são essenciais para informar políticas públicas envolvendo grandes projetos de desenvolvimento, e contribuir para o balanço entre custos e benefícios necessário para um desenvolvimento sustentável e inclusivo.
“A influência da bacia do rio Amazonas – o maior e mais divers ecossistema de água doce do planeta – atinge literalmente bilhões de pessoas no mundo” disse Julie Kunen, Vice-presidente da WCS para as Américas. “Qualquer planejamento de infraestrutura nessa região sensível de nascentes dos Andes, deve considerar os impactos acumulativos sobre todo o ecossistema, especialmente para as populações de peixes, vitais para a segurança alimentar da região”.
Michael Goulding, Limnólogo Sênior da WCS para a Amazônia, declarou: “Este estudo é um apelo do ecossistema para empreendedores e ecólogos trabalharem em conjunto em uma abordagem transnacional para encontrar soluções para mitigar os enormes impactos potenciais de infraestruturas a escalas inimagináveis algumas décadas atrás. Todas as pessoas estão a jusante. ”
São autores do artigo: Bruce Forsberg do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, John Melack e Thomas Dunne da Universidade da Califórnia, Santa Barbara; Ronaldo Barthem do Museu Paraense Emilio Goeldi; Michael Goulding da WCS; Rodrigo Paiva e Mino Sorribas da Unversidade Federal do Rio Grande do Sul; Urbano Silva Jr. do ICMBio; e Sabine Weisser da Universidade de Konstanz.
Essa pesquisa foi realizada pela grupo de trabalho de especialistas da Iniciativa Água Amazônicas apoiada pela Science for Nature and People Partnership (SNAPP), uma parceria entre a The Nature Conservancy, Wildlife Conservation Society, e o Centro Nacional de Sínteses e Análises Ecológicas (NCEAS) da Universidade da Califórnia, Santa Barbara.
A Iniciativa Águas Amazônicas é generosamente apoiada pela Fundação Gordon e Betty Moore, pela Fundação Mitsubishi Corporation para as Américas, USAID, e Fundação John D. e Catherine T. MacArthur.
Ver comunicado original aqui, e o estudo aqui.
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