O estreito de Manseriche, na transição entre os Andes e a Amazônia, é um trecho que liga os dois ecossistemas. Transporta 40% dos sedimentos para a Amazônia brasileira e apoia a conetividade ecológica e a fertilidade do solo na Amazônia.

Estreito de Manseriche. © JYB Devot. Creative Commons 4.0. Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Manseriche_P1010528mod.jpg
Um estudo recente realizado por cientistas da Aliança Águas Amazônicas, que inclui a Wildlife Conservation Society (WCS) Peru, o Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana, o Departamento de Ictiologia do Museu de História Natural da Universidad Nacional Mayor de San Marcos e outras instituições como a Red Yaku, Universidade Federal de Uberlândia, Universidade Nacional Autônoma do México e Marinha do Peru, demonstra que a construção de uma barragem hidroelétrica pode alterar as condições ecológicas e hidrológicas do estreito Manseriche, em Loreto, Peru, um trecho fundamental de ligação entre os Andes e a Amazônia.
De acordo com a investigação, a barragem geraria impactos significativos como a sedimentação a montante, a erosão a jusante e o desaparecimento do rio Santiago que alimenta o Marañón antes de chegar a Manseriche. Estas alterações fragmentariam o rio Marañón, impedindo que espécies migratórias como o Surubim (Pseudoplatystoma punctifer), o Bico-de-pato (Sorubim lima) e a piramutaba (Brachyplatystoma vaillantii) chegassem às suas zonas de reprodução, o que reduziria as populações destas espécies na Bacia. Consequentemente, poderia levar a extinções locais e comprometer serviços ecossistêmicos vitais, como a pesca e a regulação do clima.
O estreito de Manseriche é um ponto de convergência entre processos geomorfológicos, como a erosão e a sedimentação, e padrões únicos de biodiversidade. As diferenças na riqueza e abundância de peixes entre as zonas a montante e a jusante são significativas, com espécies endémicas. Além disso, este trecho é essencial para a passagem de peixes migratórios e alberga uma grande diversidade de espécies ao longo do rio.
Mariana Montoya, diretora da WCS Peru, enfatiza:
“A Bacia Amazônica enfrenta desafios como a desflorestação, a sobre-exploração dos recursos naturais e eventos extremos como as secas, que afetam a sua integridade. A construção de barragens aumenta o risco de fragmentação irreversível do rio. Este caso ressalta a necessidade de equilibrar o desenvolvimento energético com a conservação de ecossistemas únicos através de uma avaliação ambiental abrangente que inclua a conectividade fluvial e a saúde da Amazónia e das suas populações”.
O estreito Manseriche não é apenas um recurso energético; é uma ponte natural entre os Andes e a Amazónia. A sua conservação é essencial para salvaguardar a biodiversidade aquática e manter os processos que sustentam a conectividade entre estes ecossistemas.