Aliança Águas Amazônicas na COP: compromisso e colaboração pelos ecossistemas aquáticos da Amazônia

Aliança Águas Amazônicas na COP: compromisso e colaboração pelos ecossistemas aquáticos da Amazônia
dezembro 18, 2024 Gabriela Merizalderubio

A Aliança Águas Amazônicas participou ativamente da COP-16, promovendo a conservação dos ecossistemas de água doce amazônicos, um tema vital para o equilíbrio global, mas pouco discutida em cúpulas internacionais.

As organizações associadas da Aliança impulsionaram propostas interdisciplinares e soluções tecnológicas inovadoras, destacando o valor da ciência e da colaboração comunitária e interinstitucional na conservação dos recursos hídricos.

Luis Fernández de CINCIA, durante la COP16 en Cali Colombia.

Luis Fernández de CINCIA, durante la COP16 en Cali Colombia. Fotografia: CINCIA

Na Conferência das Partes (COP) – 16, realizada em Cali, Colômbia, 119 países apresentaram metas nacionais de biodiversidade, e 44 países entregaram estratégias e planos de ação nacionais, demonstrando o compromisso dos governos com a conservação. Contudo, um dos temas pouco discutidos foi a preservação dos ecossistemas de água doce, essenciais para o equilíbrio ecológico global.

A Amazônia, como um grande sumidouro de carbono e fonte dos “rios voadores” – correntes de umidade que transportam água para as regiões andinas, abastecendo muitas cidades da América do Sul –, é fundamental para a sustentabilidade hídrica do continente. Ignorar a importância desses ecossistemas não apenas ameaça a biodiversidade amazônica, mas também nos conduz a um futuro marcado por cidades sem água, comunidades vulneráveis e sociedades com problemas de saúde. A atenção e proteção dos ecossistemas de água doce devem ser uma prioridade urgente nas discussões climáticas e no planejamento global.

As organizações associadas, CINCIA, Conservation X Labs, Instituto do Bem Comum (IBC), Instituto SINCHI e Wildlife Conservation Society (WCS), participaram de uma série de apresentações e painéis, ressaltando a necessidade de proteger os ecossistemas aquáticos amazônicos. A Aliança Águas Amazônica contribuiu para o diálogo sobre soluções inovadoras para a conservação desses recursos e promoveu a colaboração interdisciplinar como chave para enfrentar os desafios ambientais da Amazônia.

Mariana Varese e Silvia López Casas, da WCS, participaram de diversos painéis, onde destacaram a importância de manter a conectividade dos ecossistemas aquáticos. Ressaltaram como essa conectividade é crucial para a migração de peixes cuja sobrevivência depende de corredores saudáveis. Também discutiram o impacto das mudanças climáticas nos sistemas de água doce e na pesca, apresentando a experiência e as contribuições da Aliança e da plataforma Ictio.org, um modelo de ciência participativa que aprimora a compreensão dos processos ecológicos em grande escala, graças à colaboração de pescadores e pescadoras dos países da Bacia Amazônica.

O Instituto SINCHI organizou o evento “Os peixes: um recurso natural diverso e fundamental na vida amazônica que precisa ser gerido e conservado”, onde foram discutidas estratégias para recuperar e manter esse serviço ecossistêmico. Por sua vez, o Instituto del Bien Común (IBC), juntamente com a Aliança Norte-Amazônica, da qual faz parte, organizou um evento para debater sobre a conectividade ecossistêmica, social e cultural da Amazônia como resposta eficaz para a conservação da biodiversidade e a estabilidade climática global.

O Conservation X Labs compartilhou avanços em tecnologias e inovações disruptivas para conservar a biodiversidade. Luis Fernández, da CINCIA, apresentou os impactos da mineração artesanal e de pequena escala na Amazônia, enfatizando a necessidade urgente de adotar medidas eficazes para mitigar seus efeitos e proteger os ecossistemas amazônicos.

A COP16, sob o tema “Paz com a Natureza”, reafirmou a urgência de proteger a biodiversidade, destacando a criação do Fundo Cali para financiar projetos de biodiversidade e a adição de US$ 163 milhões ao Fundo Global para a Biodiversidade. Uma decisão importante da cúpula foi a adoção de um programa de trabalho para promover a participação ativa dos povos indígenas e comunidades locais na conservação, representando um avanço significativo para assegurar que as comunidades estejam no centro dos esforços.

A colaboração entre diversas organizações e disciplinas em eventos como a COP16 tem um valor inestimável, especialmente na conservação da Amazônia. Essas alianças permitem abordar problemas complexos a partir de múltiplas perspectivas, combinando conhecimentos científicos, técnicos, culturais e sociais para encontrar soluções integradas e sustentáveis.

Um exemplo notável desse enfoque interdisciplinar é a adoção do Plano de Ação Global sobre Biodiversidade e Saúde, que reconhece a interdependência entre a saúde dos ecossistemas, a biodiversidade e a saúde humana, animal e vegetal. Esse marco, conhecido como One Health ou “Saúde Única”, enfatiza a necessidade de um pensamento holístico que contemple como a saúde das pessoas depende da saúde dos territórios. Essa perspectiva ressoa com os sistemas de conhecimento dos povos originários amazônicos e de outras regiões do mundo, que historicamente entenderam que o bem-estar humano depende do equilíbrio com a natureza.

 

Silvia López Casas de WCS y la Alianza Aguas Amazónicas en la COP16. A Aliança Águas Amazônicas participou ativamente da COP-16, promovendo a conservação dos ecossistemas de água doce amazônicos, um tema vital para o equilíbrio global, mas pouco discutida em cúpulas internacionais.

Silvia López Casas durante la COP 16 en Cali, Colombia. Fotografía: WCS

Como bem expressou Silvia López Casas, resultado do evento:

“As alianças interdisciplinares não apenas enriquecem as estratégias de conservação ao integrar essas cosmovisões com abordagens científicas modernas, mas também evitam decisões desinformadas que poderiam se concentrar em um único resultado de curto prazo, ignorando impactos mais amplos. Pensar de forma sistêmica e global, como faziam os povos originários, não apenas protege a Amazônia e seus ecossistemas, mas também garante benefícios duradouros para o planeta e a humanidade, fortalecendo nossa capacidade de enfrentar desafios climáticos e ecológicos.

A presença da Aliança na COP16 ressalta a importância dos ecossistemas de água doce para o bem-estar global. Seu enfoque interdisciplinar, baseado em ciência e inclusão comunitária, reforça o compromisso com soluções sustentáveis que preservem a Bacia Amazônica e garantam um futuro equilibrado para o planeta.

Persona pescando en una cocha o cuerpo de agua. Loreto, Perú. Fotografía: Diego Pérez © WCS Perú

Pessoa pescando em um lago ou corpo de água. Loreto, Peru. Foto: Diego Pérez © WCS Peru