Cientistas do CINCIA estudam poças de mineração abandonadas com um robô aquático

Cientistas do CINCIA estudam poças de mineração abandonadas com um robô aquático
julho 11, 2024 Gabriela Merizalderubio

A equipe do Programa de Ecossistemas Aquáticos do Centro de Inovação Científica Amazônica (CINCIA), utiliza tecnologia robótica e DNA ambiental para consolidar uma base de dados de poças abandonadas pela mineração e lagos naturais em Madre de Dios, com o objetivo de sustentar propostas de gestão sustentável para essas áreas afetadas pela mineração.

Cientistas do CINCIA estudam poças de mineração abandonadas com um robô aquático

Cientistas do CINCIA estudam poças de mineração abandonadas com um robô aquático. Foto: CINCIA

CINCIA, associado da Aliança Águas Amazônicas, promove o conhecimento científico sobre os ecossistemas e o uso da inovação para desenvolver soluções sustentáveis.

Nesta ocasião, entrevistamos Julio Araujo, coordenador do programa de Ecossistemas Aquáticos, e Camila Timaná, técnica do programa, para conhecer sua pesquisa sobre as poças de mineração de Madre de Dios, na selva peruana.

Eles nos comentam que, por meio do uso de um barco controlado remotamente com diferentes sensores, podem medir a profundidade e parâmetros da água como pH, temperatura, turbidez, oxigênio dissolvido, clorofila, entre outros, nas poças de mineração abandonadas e nos lagos naturais. “Com um menor esforço de amostragem, podemos caracterizar de forma mais eficiente toda essa paisagem”, indica Camila Timaná. O objetivo dos pesquisadores é ampliar e consolidar uma grande base de dados de corpos de água. Para isso, pretendem amostrar mais de 50 poças de mineração e lagos naturais em diferentes terrenos durante dois anos.

A informação será usada para a gestão sustentável de um dos maiores zonas úmidas artificiais do Peru, que abrange cerca de 20.000 hectares de espelhos d’água ou poças de mineração abandonadas em Madre de Dios. A zona, originalmente floresta primária, se transformou em um sistema de poças devido à modificação da paisagem pela atividade humana. Este impacto criou um novo ecossistema, gerando a pergunta coletiva sobre como gerir essas áreas que gradualmente têm sido repovoadas com a biodiversidade procedente de seu entorno, abrigando comunidades aquáticas como peixes e insetos, e até mesmo espécies de mamíferos emblemáticas como a ariranha ou lontra gigante (Pteronura brasiliensis).

Julio Araujo relata que desde 2017 a CINCIA investiga essa paisagem decorrente das atividades mineradoras de Madre de Dios, estudando a qualidade da água, a presença de peixes, macroinvertebrados e algas. Para estimar a presença de biodiversidade aquática, utilizam uma técnica molecular capaz de detectar os rastros de DNA que os organismos deixam na água. No entanto, é uma técnica pouco desenvolvida e com limitações na selva, devido à falta de bases de dados com as sequências de DNA das diferentes espécies presentes na Amazônia, um elemento que os cientistas precisam para comparar os materiais que coletam. O desenvolvimento dessa base de dados para a ictiofauna, que implica a coleta e identificação de indivíduos, é outra linha de pesquisa do Programa de Ecossistemas Aquáticos.

Desde 2019, um componente crucial de sua pesquisa é o uso do barco autônomo robótico. “Nós somos um centro de inovação científica, então sempre buscamos incluir inovação. Entramos em contato com professores da Pontifícia Universidade Católica do Peru e Tumi Robotics, uma empresa peruana que trabalha com temas de mineração, e contei que queria incluir algum dispositivo, assim foi germinando a ideia” relata Julio. Com essa tecnologia, o Programa de Ecossistemas Aquáticos já explorou lagos pristinos não intervencionados por atividades humanas, lagos impactados e poças de mineração. “Enquanto o projeto estiver em andamento, vamos tentar gerar uma grande base de dados de corpos d’água lênticos (águas paradas)”, diz Araujo.

Atualmente, realizam amostragens de ecossistemas aquáticos com dispositivos de controle remoto, tanto drones aquáticos como aéreos. Desde agosto de 2023, levam a cabo o Projeto Multidisciplinar do Programa Nacional de Investigação Científica e Estudos Avançados (Prociencia), financiado pelo Estado peruano e contam com o apoio da USAID Peru e da Universidade Wake Forest.

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

Foto: CINCIA

Propostas de uso da paisagem

A equipe destaca que é momento de explorar propostas para o manejo desse território abandonado. “Iniciamos uma série de estudos pioneiros nesse novo ecossistema, orientando a informação obtida para a sustentação de políticas públicas para a gestão dessas extensas áreas úmidas, atualmente consideradas em desuso ou contaminadas”.

Por isso, “o projeto também inclui uma proposta piloto de gerar uma produção aquícola do peixe pirapitinga — Piaractus brachypomus, conhecido também como paco, pacu, cachama blanca —, em uma poça de mineração abandonada, que garanta a inocuidade da produção (que seu consumo seja seguro para a saúde)” diz o coordenador do Programa de Ecossistemas Aquáticos.

Assim, CINCIA gera conhecimento científico e o integra com propostas sustentáveis de gestão produtiva e ambiental.

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

Foto: CINCIA

Para mais informações contate:

Sofia Lazarte [email protected], Comunicadora da Aliança Águas Amazônicas

Katee Salcedo [email protected], Comunicadora da CINCIA