Ictio: análise recente revela seu potencial para entender os padrões de migração de peixes na Amazônia

Ictio: análise recente revela seu potencial para entender os padrões de migração de peixes na Amazônia
agosto 13, 2024 Gabriela Merizalderubio

Um especialista em pesca amazônica da Universidade do Tennesse com apoio do especialistas da WCS avaliaram o potencial da plataforma Ictio para melhorar o conhecimento sobre espécies migratórias e gerenciamento de pesca.

 

Registro en Ictio: Dorado (Brachyplatystoma rousseauxii). Foto: Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Registro en Ictio: Dorado (Brachyplatystoma rousseauxii). Foto: Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

A Amazônia, o maior sistema de água doce do mundo, abriga uma biodiversidade excepcional, incluindo espécies de peixes que migram por todas as suas sub-bacias. Essas migrações não são apenas fundamentais para a vida dos peixes, mas também facilitam a transferência de nutrientes e energia nos diferentes habitats que eles usam, desempenhando um papel crucial na dispersão de sementes e na sustentabilidade da pesca local. De fato, 93% da pesca urbana na Amazônia é baseada em espécies migratórias.

As espécies de peixes migratórios são essenciais para manter a integridade dos sistemas socioecológicos na Amazônia. No entanto, apesar dos avanços no estudo da ecologia dessas espécies, o conhecimento sobre suas migrações tem sido limitado e disperso, o que destaca a necessidade de iniciativas integradas para monitorar e conservar esses recursos pesqueiros.

 

Ciência cidadã em ação

Ictio é uma plataforma de observação de peixes da Amazônia, desenvolvida com a colaboração de comunidades locais e indígenas, pescadores, grupos de gestão, associações e cientistas. Seu banco de dados e aplicativos associados permitem que os usuários registrem e compartilhem observações de peixes, preenchendo assim lacunas de informações cruciais para a conservação na Amazônia. Abordagens de ciência cidadã como Ictio não apenas reduzem drasticamente os custos de coleta de dados, como também capacitam os cidadãos como gestores de ecossistemas aquáticos.

Os usuários podem visualizar e compartilhar seus dados, além de manter um registro contínuo das espécies que capturam. Essas informações acumuladas em grande escala permitem uma compreensão mais profunda dos padrões migratórios de espécies prioritárias na Amazônia. Até 31 de março de 2024, Ictio registrou um total de 108.472 observações de 119 espécies/grupos de peixes, graças à colaboração de 708 cientistas cidadãos e várias organizações (leia o relatório trimestral março 2024).

 

A análise

Guido Herrera, da Universidade do Tennesse, com o apoio de Guido Miranda, Sannie Brum e Guillermo Estupiñán, da WCS Bolivia e WCS Brasil, avaliou o potencial do Ictio para aprimorar o conhecimento sobre espécies migratórias e gerenciamento de pesca. Esse esforço faz parte da estratégia da Aliança Águas Amazônicas para entender o potencial dos dados obtidos por meio do Ictio. Essa análise de dados foi realizada com informações em Ictio até julho de 2023.

 

Principais conclusões

As análises revelam que, para 25 táxons priorizados por Ictio, os dados fornecidos aumentaram em média 74% das ocorrências registradas em comparação com o AmazonFish, um banco de dados sobre peixes amazônicos que integra informações disponíveis em artigos publicados, livros, bancos de dados on-line, museus e universidades.

Entre as espécies que apresentaram os maiores aumentos no número de ocorrências, destacam-se:

  • Pirarucu Arapaima sp
  • Tambaqui Colossoma macropomum
  • Dorada Brachyplatystoma rousseauxii
  • Jaú Zungaro zungaro
  • Pirapitinga Piaractus brachypomus e surubim Pseudoplatystoma sp

Análise revela o potencial de Ictio para entender os padrões de migração de peixes na Amazônia. Aumento da área de distribução de dourada, piramutaba e tambaqui.

E entre as espécies de destaque com relação ao aumento em sua área de distribuição temos:

  • Bagres migratórios do gênero Brachyplatystoma
  • Dorada-de-escama Salminus sp
  • Pirarucu
  • Tambaqui
  • Pirapitinga

Os dados em Ictio trouxeram conhecimentos valiosos sobre a distribuição dos táxons priorizados nas principais sub-bacias do Amazonas, como Juruá, Tapajós, Negro (Branco), Madeira, Marañón e afluentes menores do canal principal. As sub-bacias com o maior aumento percentual de taxa incluem: Juruá, Tapajós, Negro (Branco), Marañón, Ucayali e afluentes menores do canal principal.

Análise revela o potencial de Ictio para entender os padrões de migração de peixes na Amazônia. Aumento das ocorrências que permitiram as observações registradas no Ictio.

Além disso, as medidas de esforço de pesca, como o número de pescadores e a duração da pesca, estão correlacionadas com as capturas registradas, em padrões similares à literatura disponível. Esses resultados destacam o potencial do Ictio para caracterizar os padrões de distribuição de espécies migratórias e a dinâmica da pesca na escala amazônica. A integração de informações espaciais e temporais, juntamente com um número maior de registros, permitirá uma compreensão mais profunda dos padrões migratórios de cada espécie priorizada.

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