Por Natalie Alm
5 de setembro, 2016
[NOTA: Esse é o terceiro de uma série de blogs escritos pela equipe da WCS no IUCN World Conservation Congress que acontece de 1-10 de setembro em Honolulu, Havaí. Veja o original aqui.]
A Iniciativa Águas Amazônicas valoriza a Amazônia pelo seu papel como o maior e mais diverso sistema de água doce do mundo. Foto: Walter Wust.
Quando você fecha seus olhos e pensa na Amazônia, o que você vê?
Para muitas pessoas, a primeira coisa que vem a cabeça é a floresta tropical – complementada por uma imagem de copas de árvores com dossel denso, folhagem exuberante, e fauna exótica, de lagartas peludas a onças.
Porém, a Amazônia é também uma bacia hidrográfica, e o maior sistema de água doce do mundo. Responsável por um sexto de toda água doce que flui para os oceanos do planeta, mais do que os próximos seis maiores rios do mundo juntos. A bacia amazônica cobre quase 40 por cento da América do Sul atravessando sete países. Fornece recursos para mais de 30 milhões de habitantes, incluindo quase 400 grupos indígenas distintos, como comida e água, transporte e sustento.
A WCS trabalha na região amazônica há mais de 40 anos e nossa equipe pode testemunhar a incrível biodiversidade, herança cultural, e beleza dessa região. Contudo, temos encontrado inúmeros desafios para a conservação em um sistema tão interconectado, onde a gestão deve ser coordenada em uma escala mais ampla de bacia.
A Dourada, por exemplo, é uma espécie de peixe emblemática da alta interconectividade da bacia amazônica. Ela viaja milhares de quilômetros subindo e descendo esse sistema continental de rios todos os anos em uma das mais longas migrações de peixes de água doce do mundo.
Para promover esse conceito da Amazônia através de suas águas, lançamos a Iniciativa Águas Amazônicas (AWI), uma parceria que apoia uma visão da Bacia Amazônica onde essa região é valorizada não somente pela floresta tropical e sua importância para o estoque de carbono, mas também pelo seu papel como o maior e mais diverso sistema de água doce do mundo.
A AWI reconhece que as muitas ameaças para os ecossistemas amazônicos, que incluem a pesca não controlada, destruição de habitat, infraestrutura mal planejada, e mudanças climáticas. E trabalha ativamente para manter a integridade deste vasto, interconectado, e dinâmico sistema.
Coordenar ações de conservação na escala da bacia é extremamente desafiador, pois envolve muitas partes interessadas de países diferentes. Um dos maiores desafios é a falta de um modelo espacial adequado que integre dados de toda a bacia. Para auxiliar a solução desse problema, um time de cientistas que forma parte da AWI disponibilizou recentemente uma nova base de dados para melhor visualizar, e dessa maneira gerenciar, a bacia amazônica através de uma análise espacial aperfeiçoada.
A ferramenta de classificação da estrutura espacial do ecossistema aquático amazônico incorpora elementos hidrológicos do sistema aquático amazônico que não eram antes incluídos em produtos espaciais, a fim de criar uma nova estrutura escalonável para classificar rios, estuários e bacias que compõem a bacia amazônica mais amplamente.
A ferramenta, disponível em qualquer programa SIG, é dividida em duas partes: uma com uma classificação hierárquica de sete níveis de bacias e outra para a rede de drenagem. Pode responder a questões de gestão e monitoramento, da relação entre habitat e produção pesqueira, até análises de espécies de acordo com o uso que fazem dos rios.
Essa ferramenta pode ser usada por pesquisadores para identificar rios de água preta ou clara que são importantes para biologia de peixes; por um gestor de pesca para melhor proteger os espaços que são importantes para os peixes; por um planejador urbano para identificar áreas com alto risco de inundação perto de cidades e povoados; ou por um legislador para melhorar a tomada de decisões na localização de projetos de infraestrutura, especialmente frente a mudanças climáticas.
Apresentamos essa nova estrutura esse final de semana no IUCN World Conservation Congress no Havaí, e um painel de especialistas e líderes em conservação forneceram comentários valiosos para a sua implementação. Instituições financeiras multilaterais elogiaram essa visão de acesso livre a dados e ferramentas.
No final do evento, o Presidente e CEO da WCS, Cristián Samper, destacou três pontos fundamentais: o poder de dados integrados e largamente acessíveis; a importância da abordagem da conservação a escalas adequadas; e a necessidade de traduzir a produção acadêmica em cenários do mundo real e material para tomadores de decisão e sociedade civil para melhor informar discussões e decisões.
Que potencial você vê em uma ferramenta de mapeamento para a Amazônia? Divirta-se com as da AWI e conte para nós o que você achou!
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