Lições e Noções deixadas pela Conferência Internacional Águas Amazônicas (Parte II)

Lições e Noções deixadas pela Conferência Internacional Águas Amazônicas (Parte II)
junho 27, 2016 AmazCitSci

Mergulhando na Bacia Amazônica: os personagens e conceitos chave do segundo dia da Conferência Internacional Águas Amazônicas, realizada em 16 de junho em Lima.  
Lima Peru – O segundo dia da Conferência Internacional Águas Amazônicas, que ocorreu em 16 de junho no NM Lima Hotel, organizada pela Wildlife Conservation Society (WCS), voltou a reunir especialistas, autoridades e interessados na conservação da bacia do rio Amazonas. Depois do primeiro dia de Conferência, quando foi assinada a Declaração Conjunta para as Águas Amazônicas, o segundo dia foi de apresentações dos grupos de trabalho, e dos modos de acesso e interações sobre a informação disponível entre todos os presentes.
Neste resumo do segundo dia, apresentamos uma seleção de conceitos chave retirados das apresentações, e o acesso aberto para os documentos das mesmas.
Dr. Eduardo Venticinque
Dr. Eduardo Venticinque, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

  • Aproximadamente 80% dos habitantes da Amazônia vivem na parte brasileira, e a maioria vive cercada por grandes rios ou próximos das paisagens aquáticas. O problema a resolver é como fazer para conservar paisagens aquáticas e pesca quando existe tanta movimentação de pessoas e atividades.
  • Temos que definir o Eixo Principal para uma gestão eficiente da bacia. Não queremos somente bacias hidrológicas, mas também bacias ecológicas.
  • Na bacia amazônica existem áreas de inundação fazendo com que estas zonas alagáveis sejam maiores que pequenos tributários. Assim, estes tributários menores são incorporados ao eixo principal do rio, porque têm uma dinâmica hidrológica mais similar às zonas de inundação.
  • Para a pesca, foram definidas as áreas mais importantes considerando níveis distintos de pesca. Para muitas espécies, os hábitats mais importantes para as suas fases de crescimento encontram-se fora do eixo principal do rio.

Dr. Carlos Cañas, Coordenador na WCS Peru da Iniciativa Águas Amazônicas.

  • Como ocorre em grande parte da Amazônia, a pesca na região de Loreto é pouco específica. Todo morador é um pescador em potencial e muitas famílias encontram-se intimamente ligadas a esta atividade.
  • Um dos desafios é estatístico. Existem vazios de informação, onde é importante saber de onde vêm os peixes. Por isso, começamos a marcar a escala da pesca, desenvolvendo o conceito para saber quais são os lugares onde a produção pesqueira é mais alta. Isso começou a envolver cada vez mais autoridades locais, o que melhorou a capacidade das análises a nível local.

Dr. Manuel Glave, Pesquisador Principal do Grupo de Análises para o Desenvolvimento, e Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

  • É importante avaliar a segurança alimentar na Amazônia, e o papel da pesca nessa região. É importante também como abordar a segurança alimentar na Amazônia, que deve considerar temas como a transformação do consumo da pesca às necessidades proteicas.
  • O que existe é uma escassez de informação. Temos que focar nos lugares estratégicos para levantar os dados.

Dr. Bruce Forsberg, Ecólogo Aquático do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.

  • Existem seis grandes projetos de usinas hidroelétricas já planificadas para a bacia amazônica, e centramos nossa pesquisa no Pongo de Manseriche considerando que o seu impacto seria similar ao impacto dos demais projetos previstos.
  • Esse é o maior projeto de todos, seus impactos se sentiriam acima e abaixo dos reservatórios. A inundação das florestas de terra firme também gerará emissões de gases de efeito estufa. São previstos impactos como a exportação de mercúrio e consequente contaminação da água e de pessoas. A jusante do reservatório os impactos estariam relacionados à retenção de sedimentos, a mudança no pulso de inundação, e ao desembarque pesqueiro, considerando que quatro anos após a inundação a quantidade de peixes costuma aumentar nestas regiões.

Mino Sorribas, Pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil.

  • A pergunta principal é: como as mudanças climáticas irão afetar a hidrologia da Amazônia? Dentro deste contexto existem três elementos principais a serem analisados: o balanço hídrico, a vazão dos rios e a dinâmica de inundações.
  • Usamos um modelo de grande escala calibrado para a Amazônia, e foi feita uma simulação da hidrologia considerando cenários climatológicos futuros. Os resultados obtidos foram:
    • Mudanças no volume e na dinâmica de precipitações.
    • Mudanças na evapotranspiração, ficando maior no sudeste amazônico.
    • A média da vazão dos rios aumentaria na porção ocidental enquanto diminuiria na porção mais oriental da bacia.
  • É necessário avaliar o impacto sinergético das barragens e o modelo hidrológico previsto para as mudanças climáticas.

Dra Andrea Encalada, Professora Titular e Diretora do Laboratório de Ecologia Aquática e do Instituto de Pesquisa, Manejo e Restauração de Ecossistemas Aquáticos da Universidade de São Francisco de Quito.

  • Na bacia do rio Napo, as perguntas principais estão focadas nas mudanças climáticas e na vulnerabilidade dos ecossistemas aquáticos. Foi feita uma comparação trópical-temperado e concluiu-se que o espectro de tolerância fisiológica é menor nos trópicos quando comparado a zonas temperadas.
  • A respeito dos processos ecológicos, existem cinco alturas diferentes para análise dos processos de decomposição em um gradiente altitudinal. Assim, vemos a diferença e a mudança dos organismos decompositores: os micróbios são importantes em altitudes mais altas, porém em altitudes maiores a taxa de decomposição é menor. Esses padrões se mantêm em sistemas controlados, em particular com controle de temperatura. 

Dra. Carolina Doria, Professora Associada da Universidade Federal de Rondônia e Coordenadora do Laboratório de Ictiologia e Pesca.

  • O sistema de pesca no rio Madeira tem atores muito diferentes, e existem conflitos entre os diferentes grupos. Esses conflitos se intensificam quando existem barragens.
  • O governo e as empresas construtoras tem à disposição toda informação, porém existe uma rede de corrupção que torna difícil o acesso a essa informação.
  • Sabemos que as represas, são importantes para suprir a demanda energética dos países amazônicos e que existe muito dinheiro investido. Porém a construção de represas também tem impactos socioeconômicos, como o deslocamento de populações e mudança nas vias tradicionais de acesso aos recursos naturais. 

Edgardo Castro, Coordenador do programa ProPachitea do Instituto do Bem Comum e Pesquisador Associado do Museu de História Natural.

  • São vários os desafios para uma gestão integrada de bacia no Peru. Um deles é a falta de coincidências entre os limites de regiões políticas e os limites das bacias hidrográficas.

Preguntas a los ponentes
Presentaciones
Marco escalável de classificação de bacias – Eduardo Venticinque
Pesca
Dr. Helder Queiroz – Instituto Mamirauá
Dr. Carlos Cañas – Wildlife Conservation Society
Dr. Manuel Glave – Grupo de Análises para o Desenvolvimento, Infraestrutura e Mudanças Climáticas
Infraestructura y cambio climático
Dr. Bruce Forsberg – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Mino Sorribas – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Dra. Andrea Encalada – Universidade San Francisco de Quito
Gestão de Bacias e Conservação de Áreas Inundáveis
Fabiano Silva – Fundação Vitória Amazônica
Edgardo Castro – Instituto del Bien Común
Dra. Carolina Doria – Universidade Federal de Rondônia