Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH)

Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH)
março 10, 2021 AmazCitSci

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas AmazonicasA Gestão Integrada de Recursos Hídricos propõe uma visão ampla dos elementos naturais, sociais, demográficos ou econômicos em nível de bacia para a gestão da água e de seus recursos. Fotografia: Walter Wust.

Assim como as veias, capilares e artérias se conectam entre si para que o sangue circule facilitando a vida do corpo humano; os rios, lagoas, canais, lagos, ravinas e aquíferos se conectam entre si para que a água flua através de diferentes paisagens. Esta conexão é o sistema hídrico da Terra e, assim como o sistema circulatório, também facilita a vida. Nesta conexão, a água percorre seu curso natural: nasce nas altas montanhas e desce até alcançar as regiões de savana ou floresta até desaguar no mar. No seu trajeto, desprovida de fronteiras políticas e fronteiras nacionais ou continentais, ela não só forma bacias hidrográficas ou conecta regiões geográficas muito distantes e distintas (como o páramo e a floresta tropical), mas também povoados, cidades, países e inúmeras comunidades urbanas e rurais.

Sob esta perspectiva, da conectividade natural da água, há pouco mais de duas décadas, a academia e os governos começaram a falar da Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH), uma abordagem que procura orientar as políticas públicas para o uso coordenado dos recursos hídricos, da terra e dos recursos naturais relacionados, com o objetivo de maximizar o bem-estar social e econômico das populações humanas de forma equitativa, sem comprometer a sustentabilidade dos ecossistemas vitais.

A bacia amazônica

Em sua definição mais simples, uma bacia é “um território cujas águas fluem todas no mesmo rio, lago ou mar”. A bacia também é a unidade territorial mais aceita para a GIRH. Nelson Obregón Neira, Diretor do Instituto Javeriano del Agua (na Colômbia), explica que na GIRH, a bacia é concebida como um grande sistema onde ocorrem muitos fenômenos naturais, biofísicos, sociais, econômicos ou de ocupação e uso da terra, os quais, se estudados de forma integrada, são a base do conhecimento que facilita a tomada de decisões para a gestão da água e seus recursos (peixes, moluscos, algas, etc.).

Na bacia amazônica (que é a maior bacia hidrográfica do mundo), a gestão até anos recentes tem se baseado em uma “abordagem muito orientada ao terreno, informações básicas muito limitadas sobre a ecologia dos ecossistemas aquáticos e a complexidade política da própria bacia”. Atualmente, graças à abordagem da GIRH, ela é vista como um macrorganismo no qual existem conexões contínuas entre a água e os ecossistemas associados, os seres vivos e as populações humanas. Poderia-se estudar a bacia a partir de sua hidrologia ou dos ciclos de carbono, nitrogênio ou fósforo que ali ocorrem. Entretanto, ignorar os outros elementos seria como tentar prevenir doenças do sistema circulatório do corpo humano, ignorando outros órgãos como o coração ou os pulmões. A GIRH implica estudar estes ciclos em relação aos ciclos de vida das espécies, às mudanças no comportamento dos rios e aos estilos de vida das populações humanas que vivem na bacia, cujos saberes sobre seu ambiente também são essenciais na GIRH.

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas AmazonicasAs formas de vida das comunidades que vivem e dependem dos ecossistemas aquáticos são determinantes na GIRH. Fotografia: Walter Wust.

Deve-se notar que muitas iniciativas (como Águas Amazônicas) e projetos estão atualmente promovendo uma abordagem cada vez mais interdisciplinar da gestão da água e da bacia, ou seja, diferentes ciências como biologia, hidrologia, ecologia ou geologia, entre outras, unem forças para estudar a bacia a fim de abordar a complexidade das interações e conexões que ali ocorrem.

A GIRH também envolve a compreensão dos ecossistemas aquáticos em grande escala a fim de entender as vulnerabilidades compartilhadas, precisamente por causa da conectividade da água. No caso da bacia amazônica, uma das abordagens em grande escala é aquela de montante-jusante, ou seja, as vulnerabilidades se manifestam desde a montante nos Andes até a jusante na Amazônia brasileira, na desembocadura do rio Amazonas. A compreensão desta vulnerabilidade em grande escala nos permite propor ações de gestão, planejamento ou conservação para a bacia, mesmo em grande escala.

As ações humanas

As ações humanas estão presentes em todos os processos naturais e vice-versa. Hoje é fácil entender esta interação através dos efeitos da mudança climática: secas ou inundações intensas e prolongadas ocorrem em diferentes partes do mundo, o que por sua vez tem um impacto negativo sobre populações inteiras. Contudo, as ações humanas são uma das principais causas da mudança climática. Na bacia amazônica, o que acontece a montante, como a poluição da água, afeta a jusante, até onde a poluição chega.

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas AmazonicasAdministrar e utilizar a água através de boas práticas, mesmo desde nossas casas, é uma forma de contribuir para o cuidado deste recurso natural. Fotografia: Walter Wust.

É por isso que, embora a GIRH procure promover políticas públicas para a gestão da água, a responsabilidade de atingir este objetivo não é de responsabilidade exclusiva dos governos ou da ciência: nossas ações diárias são definitivas na GIRH. Segundo Nelson Obregón, há dois conceitos que nos lembram da importância de nosso papel na boa gestão da água: quantidade e qualidade: quando abrimos a torneira, sabemos que por trás dela há uma infraestrutura de captação, distribuição e armazenamento de água, e que como usuários finais devemos pagar por ela; o fator econômico é o que nos leva a fechar novamente a torneira. Entretanto, se além disso economizarmos água por se tratar de um recurso natural insubstituível, estaremos garantindo que teremos a água necessária para o futuro, de fato, em alguns processos produtivos, por exemplo, a economia circular da água já é aplicada, o que tem a ver com a reciclagem e reutilização da água, como acontece no ciclo natural.

Por outro lado, a qualidade da água está frequentemente associada ao nosso bem-estar e qualidade de vida; é amplamente conhecido que o consumo de água não potável pode causar doenças da pele, respiratórias, diarreicas ou até mais graves. Contudo, a qualidade da água não só é compreendida pela água potável que chega a nossas casas através do aqueduto, mas pela qualidade com a qual a devolvemos à natureza após o uso.

É preciso partir dessas noções, assim como entender a água como um recurso insubstituível, para autogerir nossa maneira de nos relacionarmos com ela e criar hábitos responsáveis de uso a partir daquela escala muito pequena que é nossa casa.

Escrito por Carolina Obregón Sánchez

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Fontes consultadas: