Pescadores e pescadoras da Bacia Amazônica compartilharam experiências de manejo pesqueiro

Pescadores e pescadoras da Bacia Amazônica compartilharam experiências de manejo pesqueiro
fevereiro 2, 2024 Gabriela Merizalderubio

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

Durante o “Diálogo de Saberes: Manejo Participativo da Pesca na Amazônia”, pescadores, pesquisadores e técnicos se reuniram para trocar suas valiosas experiências sobre manejo pesqueiro. Treze organizações de oito bacias no Equador, Brasil e Peru participaram desse evento, que ocorreu no âmbito do Congresso de Manejo da Fauna Silvestre na América Latina, CIMFAUNA, em Santa Marta, Colômbia, em novembro.

A Aliança Águas Amazônicas promoveu esse encontro em colaboração com a USAID e a WCS. O Diálogo de Saberes teve como objetivo mapear experiências de Manejo Pesqueiro Participativo na Amazônia; compreender as fortalezas, os desafios comuns e o potencial de escalonamento dessas práticas de boa governança; apresentar as experiências ao público do CIMFAUNA; e co-criar temas para as próximas reuniões.

“O objetivo deste ciclo de encontros – pois há mais dois programados para ocorrer nesse ano – é  foi entender e inspirar caminhos ou meios de como ampliar essas estratégias de manejo que já existem na Amazônia”, disse Sannie Brum, Especialista em Ictio e Pesca Amazônica da WCS.

O Diálogo de Saberes permitiu que as comunidades locais e os povos indígenas participantes compartilhassem suas realidades e soluções. Houve uma aprendizagem mútua de boas práticas e também reflexões sobre o enfoque de gênero na pesca.

Uma das participantes, Evaneide de Souza Costa, representante da Associação de Mulheres Agroextrativistas do Médio Juruá (ASMAMJ), compartilhou seu entusiasmo, dizendo: “Me sinto muito feliz de estar compartilhando o nosso trabalho lá, da nossa cultura, com outras pessoas e as outras pessoas tá contribuindo com a gente também”.

Germán Narankas, do Centro Shuar Kaputna no Equador, expressou sua gratidão, afirmando: “É a primeira vez na minha vida que participo deste congresso, e estou muito feliz de levar essa experiência para o meu país”.

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

A diversidade de perspectivas e conhecimentos compartilhados durante o evento não apenas enriqueceu a compreensão coletiva sobre o manejo da pesca na Amazônia, mas também fortaleceu os laços entre as comunidades envolvidas.

A Aliança Águas Amazônicas, juntamente com seus parceiros, continua trabalhando arduamente para promover práticas de manejo participativo que beneficiem tanto as comunidades locais quanto o frágil ecossistema amazônico.

Conheça as experiências abaixo.

 

Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Médio Solimões, Brasil.

Representante: Ana Cláudia Torres Gonçalves

O Programa de Manejo de Pesca (PMP) de Mamirauá assessora comunidades ribeirinhas sobre a gestão compartilhada do peixe pirarucu desde 1999. Em 24 anos, promoveu a conservação da espécie e o aumento de renda para famílias locais. A experiência foi replicada no Brasil e em outros países amazônicos onde a espécie está presente.

 

Associação de Pescadores e processadores artesanais Manatí de Apayacu e Instituto del Bien Común. Rio Apayacu, Loreto, Peru.

Representantes: Jorge Avelar, comunidade nativa de Yanayacu e Vanessa Rodríguez (IBC)

Essa associação de pescadores comerciais do povo Yagua, juntamente com o IBC, vêm desenvolvendo há 13 anos uma proposta de governança pesqueira na bacia do Apayacu. O Programa de Manejo Pesqueiro, PROMAPE Apayacu, envolve 11 comunidades e diversas organizações para preservar os recursos hidrobiológicos, focados em espécies de consumo e ornamentais. Com 51 famílias gerenciando 261 hectares, conseguiram aumentar os tamanhos de captura e recuperar o peixe-boi e várias espécies de peixes.

 

Associação de Mulheres Agroextrativistas do Médio Juruá (ASMAMJ) e Instituto Juruá. Brasil.

Representantes: Evaneide de Souza Costa, Irlene de Figueiredo (ASMAMJ) e Camila Ritter (Instituto Juruá)

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

Desde 2014, as mulheres assumiram o protagonismo nas atividades de manejo e agroextrativismo na Reserva Extrativista do Médio Juruá. Evaneide e Irlene contaram como, juntamente com suas companheiras, estão envolvidas em projetos de manejo sustentável de pirarucu e tambaqui.

Na região, existem acordos de pesca, um instrumento legal que permite aos grupos de pescadores gerenciar seus recursos.

 

Associação Indígena Povo das Águas (AIPA) e Organização Amazônia Nativa (OPAN). Medio Purús. Brasil.

Representante: Gilmar Chagas Cassiano da Silva (AIPA) e Antonio Miranda Neto (OPAN)

Os indígenas Paumari, habitantes do rio Purús no Brasil, são pioneiros na adoção do manejo do pirarucu em territórios indígenas. Construíram seu plano de manejo em 2008 com o apoio da Operação Amazônia Nativa e conseguiram recuperar as populações do peixe, que esteve em risco de extinção na década de 90. Suspenderam a pesca por cinco anos. Agora, a espécie se recuperou e 40 famílias gerenciam sua pesca sustentável em 63 lagos de seu território.

 

Associação dos Comunitários que Trabalham com Desenvolvimento Sustentável no Município de Jutaí (ACJ) y OPAN. Río Jutaí. Brasil.

Representantes: Diomir de Souza Santos (ACJ) e Antonio Miranda Neto (OPAN)

Atualmente, 39 comunidades participam na gestão e proteção de 368 habitats aquáticos destinados ao manejo sustentável de pirarucu. A associação foi criada em 2009 para representar as comunidades e fortalecer suas capacidades para manejar a pesca artesanal. Agora, a ACJ é uma organização-chave no município de Jutaí em relação ao manejo pesqueiro.

 

Colônia de Pescadores Z-42 de Juruti e Sapopema. Pará, Brasil.

Representantes: Renato de Melo Farias (Colônia Z-42) e Poliane Batista (Sapopema)

As comunidades de Juruti iniciaram na década de 1980 um movimento pelos acordos de pesca para decidir sobre o uso de seus lagos. Assim, após um processo, os acordos tornaram-se instrumentos formais e ajudaram a mitigar conflitos de pesca. Seu acordo de pesca abrange uma extensa área de 55.277,56 hectares, abrangendo três municípios: Juruti, Óbidos e Santarém.

 

Povos Indígenas da Nacionalidade Shuar – Centro Shuar Kaputna e WCS Ecuador. Rio Santiago. Equador.

Representantes: Gérman Narankas (Centro Shuar Kaputna) e Fernando Anaguano (WCS)

Cinco pescadores e pescadoras indígenas de Kaputna monitoram seus peixes com a plataforma de ciência cidadã Ictio. Eles querem saber quais espécies habitam seus rios e ecossistemas aquáticos e como a mineração e a construção de hidroelétricas podem afetar as espécies. Durante um ano, realizaram amostragens em sete locais, registrando 144 espécies. Possivelmente, duas espécies são novas para a ciência.

 

Asociación de Pescadores Artesanales Río Napo y WCS Ecuador. Río Napo

Fernando Anaguano (WCS)

Na cidade de Coca, Equador, uma mulher lidera uma associação de 23 pescadoras e pescadores que capturam principalmente bagres amazônicos. Um decreto municipal estabelece que aqueles que aproveitam os recursos pesqueiros dentro do cantón Orellana devem contribuir para a geração de conhecimento. Assim, eles combinam suas atividades diárias de pesca com a ciência cidadã, monitorando suas capturas com o aplicativo Ictio. Esses dados contribuem para gerar informações para o manejo. Eles também registraram a presença de uma espécie que não havia sido vista na bacia do rio Napo.

 

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

Os objetivos do encontro foram cumpridos. Os participantes compartilharam suas experiências durante os quatro dias do evento. Após identificar suas forças e desafios comuns, eles levaram de volta aos seus países todas as aprendizagens, com o desejo de implementá-las e aprimorar suas iniciativas locais de manejo pesqueiro.

O Diálogo de Saberes foi uma das ações da Aliança Águas Amazônicas para o fortalecimento da governança pesqueira em múltiplas escalas. A Aliança reúne 26 organizações, incluindo universidades, institutos de pesquisa governamentais, organizações de base e organizações da sociedade civil de sete países comprometidos com a conservação e integridade ecossistêmica da Bacia Amazônica.

 

Contato de imprensa

Katy Puga, kpugacadena@wcs.org