Lições e Noções depois da Conferência Internacional Águas Amazônicas (Parte I)

Lições e Noções depois da Conferência Internacional Águas Amazônicas (Parte I)
junho 16, 2016 AmazCitSci

Mergulhando na Bacia Amazônica: os personagens e conceitos chave da Conferência Internacional Águas Amazônicas, realizada em 15 de junho em Lima.
Lima, Peru – A Conferência Internacional Águas Amazônicas, que ocorreu em 15 de junho, organizada pela Wildlife Conservation Society (WCS), reuniu mais de uma centena de especialistas, autoridades e interessados na conservação da bacia do rio Amazonas. A Conferência foi encerrada com a Declaração Conjunta em prol das Águas Amazônicas, assinada, entre outros, pelo Ministro do Meio Ambiente do Peru, Sr. Manuel Pulgar-Vidal, do Secretário Estadual de Meio Ambiente do Estado do Amazonas (Brasil) e o Presidente e Diretor da WCS, Sr. Cristián Samper. Também foram apresentados e discutidos temas sensíveis e fundamentais que reforçam a visão da Amazônia como uma grande bacia que deve ser manejada e conservada de forma integral.
Todas as apresentações estão disponíveis para consulta em http://pt.aguasamazonicas.org e a seguir temos uma seleção de conceitos chaves sobre a bacia amazônica, elaborados pelos especialistas que estiveram presentes na conferência.
Manuel Pulgar Vidal
Dr. Manuel Pulgar-Vidal, Ministro do Meio Ambiente do Peru:

  • “A integração da Amazônia em uma única bacia nos permite compreender a importância de problemas como a mineração, contaminação, e suas conexões: da bacia em sua totalidade. E nos possibilita compreender melhor seus distintos ecossistemas”.
  • “Devemos ter em conta as características das águas e de suas fontes, e suas condições em relação a ameaças provenientes de mudanças climáticas. Temos que conhecer a dinâmica hídrica e as possibilidades futuras frente aos cenários de mudança climática, para que possamos tomar as decisões adequadas para a conservação”.
  • “Pensar na Amazônica, nas Águas Amazônicas, sem pensar em temas como as culturas que florescem nela, é um erro. No Peru, ainda não solucionamos o tema dos territórios indígenas, com dinâmicas de conflitos que ocorrem quando se encontram povos nativos com imigrantes e colonos”.
  • “Devemos ter em conta a relação das diferentes culturas com os recursos naturais”.

Julie Kunen
Dra. Julie Kunen, Vice-presidente da WCS para a América Latina e América do Norte:

  • “O rio Amazonas tem mais de 2.400 espécies de peixes, mais espécies que em todo o Oceano Atlântico”.
  • “As pessoas costumam ver a Amazônica unicamente com uma enorme floresta que sofre ameaça por estradas e depredação, entre outras. Contudo, os ecossistemas de água doce também estão ameaçados e precisamos agir com urgência”.
  • “As principais ameaças que enfrentam os ecossistemas de água doce da Amazônia são:
    • Uma pesca vibrante e altamente produtiva na bacia, da qual dependem diretamente 400.000 pessoas, e que não é manejada em escala apropriada. Por exemplo, 80% da pesca são de peixes migradores, porém nenhum dos sistemas de manejo existentes considera a escala de bacia, apesar de essas espécies utilizarem toda a bacia durante seu ciclo de vida. Portanto, Espécies migratórias deveriam ser manejadas na escala da bacia.
    • Projetos de infraestrutura, sem nenhuma informação detalhada que, sem mitigação, colocam em risco o fluxo natural das águas e a dinâmica de sedimentos.
    • A possibilidade de grandes mudanças hidrológicas diante de megaprojetos, como as represas já planejadas. Sobretudo considerando a ameaça de mudanças climáticas”.
  • “É preciso uma aliança que possa trabalhar além das fronteiras fluviais, das fronteiras de Unidades de Conservação, de fronteiras regionais e nacionais”.

Michael Goulding
Dr. Michael Goulding, Consultor em ecologia aquática e fauna amazônica:

  • “O ecossistema amazônico é um organismo em equilíbrio, a própria definição de ecossistema implica conectividade”.
  • “A vazão do rio Amazonas é tão grande que necessariamente compreende toda uma região hidrológica, uma bacia amazônica, para gerar tamanha vazão”.
  • “Devemos entender que os rios também representam um tipo de paisagem aquática (wetland). Esse conceito gerou um grande debate na Convenção RAMSAR”.
  • “O eixo principal do rio Amazonas, é o polígono amazônico com menos áreas protegidas”.
  • “Se não conservamos a bacia, a pesca é afetada. Se amanhã não há suficientes peixes, o que a população local fará? Provavelmente irão caçar, e assim também a caça se acabará”.

Ronaldo Barthem
Dr. Ronaldo Barthem, Pesquisador Titular do Museu Goeldi, Brasil.

  • “A pesca se estende por toda a Amazônia e existem ambientes com produtividades muito distintas. Essa é a principal atividade que sustenta a população local, sem embargo, ignoramos qual é a produtividade pesqueira total da bacia”.
  • “Não existe na região uma gestão política visando continuidade. Por exemplo, nos países amazônicos é constante a mudança das instituições responsáveis pela atividade pesqueira”.

Dra. Marcela Núñez Avellaneda

Dra. Marcela Núñez Avellaneda, Pesquisadora do Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (SINCHI) da Colômbia. 

  • “Estamos priorizando o monitoramento de mercúrio na Colômbia. Alguns estudos mostram dados sobre a concentração de mercúrio principalmente em jovens e em diferentes espécies de peixes. Por exemplo, os grandes bagres apresentam concentrações muito altas de mercúrio”.
  • “Há três ou quatro anos se estudam alguns peixes para poder alertar cedo sobre os níveis de mercúrio. Foram promovidas várias reuniões com diferentes setores da Amazônia colombiana para que se fosse feito um monitoramento. Existem ações muito pontuais, mas ainda não são contundentes”.

Marco Ehrlich
Dr. Marco Ehrlich, Subdiretor Científico e Tecnológico do Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (SINCHI) da Colômbia.

  • “Na Colômbia, os “motores” do desmatamento na Amazônia são: pecuária extensiva, narcotráfico, conflito armado, extração dos recursos naturais – como borracha, madeiras nobres, animais silvestres, pesca comercial, etc. – , extração de recursos não renováveis – como hidrocarbonetos e minério -, e o garimpo ilegal de ouro”.
  • “Devemos apoiar as comunidades indígenas para que possam resistir àpressão do garimpo ilegal em seus territórios”.
  • “Existem vários exemplos de comunidades indígenas que se organizam para combater o garimpo ilegal, porém também existem casos onde essas comunidades se colocam a favor da atividade mineradora. Por quê? Porque pensam que ao não ter alternativa de geração de renda, devem manter o garimpo. Por essa razão é necessário impulsionar outras alternativas sustentáveis de geração de renda para essas comunidades”.

Elizabeth Anderson
Dra. Elizabeth Anderson, Diretora dos Programas Internacionais de Pesquisa na Escola Ambiente, Arte e Sociedade da Universidade da Flórida.

  • “Na Amazônia, a água é fundamental em muitos aspectos, incluindo o cultural. Para o povo Shawi, por exemplo, a água é muito importante e forma parte de seus mitos e cosmologia. Eles vêm a água como uma fonte de fortaleza e conexão ancestral”.
  • “Durante a década passada, houve uma pausa no desenvolvimento hidroelétrico global. Parecia o fim, porém atualmente existe um “boom”, enfocado principalmente, nas bacias tropicais”.
  • “Atualmente, entre operando e em construção, existem 97 represas na região amazônica do Peru, Colômbia, Bolívia e Equador. Porém, se somamos todas que estão planejadas ou propostas, essa cifra chega a 257”.

Tim Baker
 
Dr. Tim Baker, Professor Associado de Ecologia e Conservação de Florestas Tropicais da Universidade de Leeds.

  • “A zona mais importante de turfeiras na Amazônia é a de depressão da bacia Pastaza-Marañón. Essa área seria do tamanho de toda a Inglaterra”.
  • “As turfeiras, que têm matéria orgânica abaixo do solo, são formadas por três tipos de vegetação:
    • Buritizais
    • Pântanos abertos
    • Chavascasis”
  • “Pode-se explicar facilmente a importância da turfeiras quando consideramos a quantidade de carbono que armazenam esses sistemas. 90% desse carbono é armazenado debaixo dos tipos de vegetação”.
  • “Quanto carbono é armazenado nas turfeiras do Pastaza-Marañón? Um total de 3,1 bilhões de toneladas, o equivalente a 60 anos de emissão antropogênica de CO2 no Peru. Esse dado demonstra a importância desses ambientes para os compromissos de emissões de GEE do Peru”.
  • “Para manutenção das turfeiras e do estoque de carbono que armazenam, é fundamental manter o ciclo hidrológico atual, para que esses ambientes não sejam afetados. A prioridade de conservação das turfeiras deve ser sempre alta”.

Presentaciones

A visão de Águas Amazônicas – Julie Kunen

Águas Amazônicas: Conexão, escalas e desafios – Michael Goulding

Pesca e Migração dos Peixes – Ronaldo Barthem

Contaminação por Mercúrio – Marco Ehrlich – Marcela Núñes-Avellaneda

Rios Vivos – Elizabeth Anderson

Os Buritizais Amazônicos – Tim Baker