Encerramento do primeiro ciclo dos Diálogos de Saberes: um passo decisivo rumo a uma pesca mais justa e sustentável na Amazônia

Encerramento do primeiro ciclo dos Diálogos de Saberes: um passo decisivo rumo a uma pesca mais justa e sustentável na Amazônia
maio 12, 2025 Gabriela Merizalderubio

Com a participação ativa de 61 pescadores e pescadoras da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador e Peru — representando 27 associações — e o apoio de 13 organizações técnicas,  foi concluído o primeiro ciclo dos Diálogos de Saberes, uma iniciativa da Aliança Águas Amazônicas que se propôs a visibilizar e debater a forma como se pensa e se conduz a pesca na Bacia Amazônica. Esse espaço de encontro entre pescadores, cientistas, técnicos e autoridades pesqueiras abriu caminho para uma nova etapa na governança pesqueira regional, baseada no reconhecimento dos saberes locais, na colaboração entre países e na construção de soluções a partir das próprias comunidades.

Conservando la Cuenca Amazónica Aguas Amazonicas

Quinto Diálogo de Saberes. © Alianza Aguas Amazónicas

Durante mais de um ano de trabalho, os cinco encontros realizados em diferentes países amazônicos permitiram que as e os participantes compartilhassem experiências, dessem visibilidade às suas lutas diárias e propusessem estratégias concretas diante de desafios comuns, como o monitoramento da pesca e o enfrentamento às mudanças climáticas.

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Segundo Diálogo de Saberes de Huacho Perú. © Mariana Moscoso / Alianza Aguas Amazónicas.

Do primeiro encontro em Santa Marta (Colômbia) até o encerramento em Brasília (Brasil), consolidou-se uma rede de colaboração que hoje deixa frutos concretos e compromissos assumidos pelos próprios pescadores.

Entre os resultados mais destacados está a Carta de Brasília, um documento construído coletivamente por representantes de comunidades pesqueiras brasileiras, que propõe princípios e ações concretas para que o governo apoie, por meio de políticas públicas, a gestão participativa da pesca no Brasil, e que foi entregue pelos pescadores diretamente aos órgãos competentes Outro marco foi o compromisso assumido por diversas associações com a limpeza dos rios, promovendo mutirões comunitários para cuidar dos ecossistemas que sustentam seus modos de vida.

Este ciclo também foi fundamental para dar visibilidade ao papel central dos pescadores e pescadoras na conservação da Amazônia. Mais do que serem ouvidos, eles tiveram protagonismo ao trocar saberes e gerar propostas com potencial de serem replicadas em outras regiões da Bacia. Em territórios interligados por um mesmo sistema de águas doces, suas vozes se uniram para construir uma agenda comum que reflete a diversidade cultural e ecológica da região.

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Primeiro Diálogo de Saberes de Santa Marta, Colombia. © Jefferson Grisales / WCS

Além disso, os Diálogos de Saberes impulsionaram de forma decidida a integração da perspectiva de gênero na gestão pesqueira. Em cada encontro, foi destacada a importância de reconhecer o papel das mulheres em todas as etapas da cadeia da pesca — da captura à comercialização e à gestão —, promovendo uma participação ativa que fortalece a equidade e contribui para uma pesca verdadeiramente sustentável.

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Primeiro Diálogo de Saberes, Santa Marta Colombia. © Jefferson Grisales / WCS

Com o apoio de organizações como WCS, MOORE, USAID, Tropenbos, FAO, WWF, AUNAP, TNC, Ecoporé, Instituto Juruá, CTI e IBC, consolidaram-se alianças entre diversos atores que compartilham uma visão comum: garantir a sustentabilidade dos recursos pesqueiros por meio de uma abordagem participativa, inclusiva e enraizada no conhecimento de quem vive dos e com os rios.

Embora este primeiro ciclo esteja chegando ao fim, os Diálogos de Saberes continuarão sendo uma plataforma viva. O processo segue adiante, impulsionado pelo compromisso das comunidades e pela força das alianças construídas. Porque conservar os rios da Amazônia não é apenas uma tarefa técnica: é uma ação coletiva que começa por ouvir e confiar em quem cuida desses territórios há gerações.

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