Como enfrentar os derramamentos de petróleo e seus efeitos? Especialistas de diferentes países compartilham suas experiências

Como enfrentar os derramamentos de petróleo e seus efeitos? Especialistas de diferentes países compartilham suas experiências
fevereiro 28, 2022 Gabriela Merizalderubio

Escrito por: Daniel Villavicencio – Pronaturaleza

A fim de conhecer melhor as causas e efeitos dos derramamentos de petróleo na região, especialistas de diferentes países e áreas de conhecimento compartilham suas experiências no Webinar Contaminação por derramamentos de petróleo, organizado pela Rede Ciência Cidadã para a Amazônia, sua sócia Pronaturaleza e a organização Águas Amazônicas.

O evento contou com o apoio da Fundação Gordon and Betty Moore e teve como objetivo dar visibilidade às causas, impactos e possíveis formas de mitigar ou prevenir os derrames de petróleo que ocorrem em ecossistemas aquáticos e terrestres, com especial ênfase na Amazônia. Também contou com a participação de 7 especialistas de diferentes países, como Peru, Brasil, Colômbia e Equador, e disciplinas tão variadas como o direito, a biologia, as comunicações e a engenharia ambiental.

No Peru, um estudo intitulado “La sombra del petróleo” (“A sombra do petróleo”), publicado em 2020 pela Coordenadoria Nacional de Direitos Humanos, analisa os derramamentos de petróleo e indica que 65% dos derramamentos se devem à corrosão dos dutos e falhas operacionais, enquanto 28% são causados por terceiros.

Infelizmente, essas não são as únicas estatísticas alarmantes, pois o recente relatório também evidencia que no Lote 192, o ativo petrolífero mais importante do país, localizado na Amazônia, existem mais de 2 mil locais contaminados com petróleo, dos quais apenas 32 foram priorizados para tratamento. Além disso, a quantidade de contaminação nesses 32 lugares afetados equivale, em média, a 230 estádios nacionais.

“Os derramamentos de petróleo configuram uma tragédia para as comunidades indígenas, dada a sua relação vital com o rio; isto é, um derramamento promove o uso e consumo de água contaminada, além de interromper a pesca, uma das atividades econômicas mais importantes na região”, explicou Juan Carlos Ruiz, Coordenador da Área de Litígio Constitucional do Instituto de Defesa Legal peruano (IDL), durante sua participação no Webinar “Contaminação por derramamentos de petróleo”, um evento virtual realizado em 22 de fevereiro, na terça-feira passada, e organizado pela Ciência Cidadã para a Amazônia, Pronaturaleza e Águas Amazônicas.

Uma visão integral

A diversidade de vozes e experiências permitiu que o evento funcionasse como um espaço para identificar todos os pontos que precisam ser abordados quando falamos de um derramamento de petróleo: impactos ambientais, normas, cidadania, transparência de informações, extrativismo, divulgação, possíveis soluções, etc. Assim, embora esse tema tenha ganhado certa visibilidade nas últimas semanas, se trata de um atentado a nosso ecossistema que está presente há várias décadas em nosso país.

Óscar Rada, membro da Pronaturaleza, organização sócia à Rede, e especialista em processos de monitoramento ambiental comunitário em projetos de exploração de hidrocarbonetos, mencionou que a participação, a vigilância e a cidadania não podem ser tidas como meras palavras, mas sim ações tangíveis que possam ajudar a enfrentar esse tipo de catástrofe. “Olhemos para a selva, lá estão os cidadãos com conhecimento e experiência, preparados para mitigar os efeitos dos derramamentos e garantir a remediação ambiental”, comentou. Além disso, acrescentou que, se houvesse um sistema de vigilância cidadã ativo, saberíamos quais empresas têm ou não um plano de contingência, podendo assim evitar os derramamentos.

Em sua fala, Tatiana Solano, engenheira industrial especialista em segurança, saúde, meio ambiente e nanotecnologia, compartilhou sua experiência criando planos de contingência, tecnologias e protocolos de remediação que conectam o setor de hidrocarbonetos com os ambientes em que atua (agrícolas, pesqueiros, etc.); isto é, as particularidades de cada um dos ecossistemas e suas variáveis devem ser incluídas nos planos de remediação. Dessa forma, a solução não será “apenas limpar”, mas sim recuperar o território danificado. “Se um agricultor perdeu sua propriedade, este deve ser compensado e, não só isso, deve ter seus meios produtivos garantidos”, finalizou.

Assista ao webinar completo aqui e deixe suas dúvidas nos comentários.