As turfeiras da Amazônia: as áreas alagáveis menos frequentes também são as mais importantes em termos de carbono

As turfeiras da Amazônia: as áreas alagáveis menos frequentes também são as mais importantes em termos de carbono
junho 30, 2017 AmazCitSci

No Peru, metade do carbono armazenado como matéria orgânica se encontra em solos de turfeiras.
A turfa, um tipo de solo composto por ao menos 30% de matéria orgânica morta, ficou famosa como fonte do odor defumado dos whiskies irlandeses e pelas turfeiras vermelhas do sul da Patagônia. Em zonas temperadas, as turfeiras são valorizadas pela sua capacidade de armazenar ou sequestrar carbono, o gás de efeito estufa mais importante no atual contexto de aquecimento global.
A Amazônia é famosa pelas árvores que também sequestram carbono, apelidando a região de “pulmão da Terra”. Porém, ” um estudo realizado na bacia do rio Pastaza-Marañon, em Loreto no Peru, mostrou que o “pulmão” também deveria incluir as turfeiras. Utilizando métodos de detecção remota e de medição de carbono em campo, os pesquisadores criaram novos mapas com a distribuição de três diferentes tipos de turfeiras e estimaram a quantidade de carbono encontrada em cada um.
As turfeiras da Amazônia aparecem nas partes mais baixas da bacia, lugares onde a água não drena depois das chuvas torrenciais que ocorrem na floresta. Diferentes tipos de vegetação nascem nas turfeiras, o que torna difícil a sua identificação somente com métodos de detecção remota, que usa o tipo de vegetação para identificar os ambientes. No estudo realizado por Draper et al., a combinação entre detecção remota e expedições a campo permitiu que os pesquisadores identificassem três tipos de turfeiras: os xavascais, os buritizais e as campinas.
Devido à proximidade a rios grandes e dinâmicos, que constantemente alteram a paisagem, e aos resultados de datação por carbono radioativo, os pesquisadores acreditam que os xavascais são o ecossistema de turfeiras mais jovem da Amazônia. Essas turfeiras de águas abertas têm pouco ou nada de vegetação e podem ser o primeiro passo na sucessão que leva a ambientes com uma maior capacidade de sequestro carbono.
A medida que os rios se afastam das turfeiras o se tornam menos dinâmicos, os xavascais se convertem em buritizais. A vegetação característica do buritizal aumenta a quantidade de carbono incorporado porque ao invés de acumula-lo no solo, como ocorre nos xavascais, o gás também se acumula nas árvores. Neste sistema, a interação com os rios continua, o que assegura níveis de nutrientes suficientemente altos para manter as espécies importantes, como a palmeira que lhe dá nome, o Buriti (Mauritia flexuosa).
Finalmente, o último passo da sucessão das turfeiras: as campinas. Rios e igarapés deixam de interagir com a turfeira, já que ficam totalmente afastados do ambiente, e qualquer inundação é causa direta da chuva. De forma que a água fica estancada no ambiente sem conexão com rios, a quantidade de nutrientes é baixa e aparecem as florestas. Estas florestas, identificadas pelos autores de Draper et al., são encontradas próximas ao rio Tigre e parece que surgiram a partir do isolamento deste rio em relação ao rio Pastaza. Isso significa que essas turfeiras existem há pelo menos 8.000 anos.
É importante contextualizar o sequestro de carbono. As turfeiras da bacia amazônica cobrem uma área de 35.600 km2 aproximadamente (maior que a Bélgica, porém somente 3 % de toda floresta peruana) e sequestram 3.14 pentogramas de carbono (aproximadamente 50% de todo o carbono sequestrado na Amazônia peruana). Isso significa que, se acabamos com as turfeiras amazônicas, ” emitiríamos praticamente a metade das as emissões globais de carbono relativas ao uso de combustíveis”. Mesmo a Amazônia sendo considerada o “pulmão da terra” é importante para a tomada de decisões que se considere a combinação de ações de conservação, manejo e desenvolvimento para todos os tipos de ambientes, e que essas áreas úmidas sejam consideradas prioritárias devido a sua contribuição no sequestro de carbono.
Pesquisas como esta permitem a tomada de decisões políticas e de manejo inteligentes, com base na realidade, promovendo a conservação da natureza e o desenvolvimento sustentável. O Dr. Tim Baker da Universidade de Leeds, apresentou essa pesquisa durante o lançamento da Iniciativa Águas Amazônicas promovida pela WCS, essa iniciativa tem foco na conservação de paisagens aquática, incluindo as turfeiras. A iniciativa destaca o papel dessas áreas úmidas como a conexão entre as florestas e a biodiversidade, e na promoção dos serviços ecossistêmicos como a captura de carbono na Amazônia. O lançamento da Iniciativa teve a participação de várias instituições e contou com uma abertura realizada pelo Ministro do Meio Ambiente do Peru, Sr. Manuel Pulgar Vidal, além de apresentações realizadas por diversos pesquisadores. Para mais informações sobre a Iniciativa Águas Amazônicas, visite nossa página web, e fique ligado nas notícias.
Referências
Draper, F.C., K.H. Rocoux, I.T. Lawson, E.T.A. Mitchard, E.N.H. Coronado, O. Lähteenoja, L. Torres Montenegro, E. Valderrama Sandoval, R. Zaráte, and T. R. Baker. 2014. “The distribution and amount of carbon in the largest peatland complex in Amazonia.” Environmental Research Letters 9: 124017. doi: 10.1088/1748-9326/12/124017
International Peatland Society. 2016. “What is peat?” URL: http://www.peatsociety.org/peatlands-and-peat/what-peat
McKinley, Galen A. 2016. “Fossil Fuels.” URL: http://carboncycle.aos.wisc.edu/fossil-fuels/ University of Wisconsin – Madison.
Amazon Waters Initiative. 2016. “The Initiative.” URL: http://amazonwaters.org/ Wildlife Conservation Society.
Escrito por Natalia Piland.