Um olhar sobre as Águas Amazônicas

Um olhar sobre as Águas Amazônicas
outubro 6, 2015 AmazCitSci

Autor: Carlos Durigan –Diretor da WCS Brasil
A Amazônia é bem conhecida pelas suas peculiaridades superlativas que incluem as maiores extensões de florestas tropicais, bacias hidrográficas e biodiversidade do Planeta. Nesta região, que corresponde a aproximadamente 40% da área geográfica da América do Sul, convivem culturas humanas das mais diversas. São centenas de povos indígenas, populações tradicionais ribeirinhas, quilombolas, agricultores familiares e uma população urbana que representa em torno de 70% dos quase 34 milhões de pessoas que vivem na região amazônica, que inclui territórios de nove países. Na Amazônia brasileira são 25 milhões de habitantes.
Anavilhanasweb
Não menos conhecidos que sua exuberância, são os problemas associados ao seu processo histórico de ocupação recente, onde figuram o desmatamento, que já atinge em torno de 20% de sua cobertura vegetal, e os conflitos sociais existentes envolvendo questões territoriais, uso de recursos naturais, crescimento urbano acelerado, carência de serviços essenciais, entre outros motivos.
Temos vivenciado nas últimas décadas um movimento importante que envolve ações desenvolvidas por representações da sociedade civil e agências governamentais nas várias de suas esferas em busca por construir políticas públicas socioambientais adequadas para a região e avanços importantes foram alcançados. Um exemplo é o processo de estabelecimento de áreas protegidas na região, que já conta com quase 50% de sua área com algum status de proteção se consideramos apenas a criação de Unidades de Conservação e reconhecimento de Terras Indígenas. Entretanto, o aumento recente de escala das ameaças que impactam negativamente a região e seus atributos, exigem esforços ampliados e integrados.
Neste sentido, somando-se aos esforços em curso, aproximadamente 60 instituições entre Agências Governamentais peruanas e brasileiras, ONGs, Instituições de Pesquisa, Universidades, Representações Indígenas e de pescadores que atuam na Amazônia, estarão reunidas na Conferência Internacional “Águas Amazônicas: Escalas, Conexões e Desafios”, que se inicia nesta terça-feira (19), em Manaus.
Neste evento a WCS – Wildlife Conservation Society (Sociedade para a Conservação da Vida Silvestre) apresentará os resultados de um Projeto desenvolvido sob a plataforma SNAP – Science for Nature and People (Ciência para a Natureza e Gente), desenvolvido em parceria entre a WCS, TNC (The Nature Conservancy) e NCEAS (National Center for Ecological Analisys and Syntesis). Este projeto faz parte da Iniciativa Águas Amazônicas e através dele, estudos foram desenvolvidos envolvendo pesquisadores brasileiros, peruanos e norteamericanos, e que teve como principal objetivo ampliar a escala das ações conservacionistas na Amazônia, considerando a importância de suas águas, paisagens e biodiversidade aquáticas, e sua importância para a manutenção dos processos ecológicos que sustentam a vida silvestre e os modos de vida na região. A Iniciativa Águas Amazônicas busca construir uma rede de alianças e sinergias em torno de uma abordagem onde ações de conservação e manejo das águas, paisagens e biodiversidade aquáticas constituem-se importantes elementos da agenda socioambiental para a região.
Conferenciaweb
O manejo inadequado dos recursos naturais, o desmatamento, o crescimento descontrolado das cidades e as mudanças climáticas representam grandes ameaças para a biodiversidade e a qualidade de vida regionais. Somam-se a estes, os grandes investimentos em obras de infraestrutura (hidrelétricas e estradas), expansão de atividades como a mineração em larga escala, a agropecuária, a exploração madeireira e pesqueira, em sua maioria desenvolvidas sem um planejamento adequado, e que contribuem ainda de forma significativa para a degradação social e ambiental da Amazônia. Este cenário põe em risco os avanços já experimentados, como a implementação de áreas protegidas, e amplia o cenário negativo que compromete  a saúde dos ecossistemas regionais.
Frente a estes desafios, a Iniciativa Águas Amazônicas se agrega no sentido de desenvolver uma abordagem onde o Manejo Integrado de Bacias Hidrográficas que formam a Amazônia toma corpo neste novo debate e se apresenta como uma alternativa importante a se somar aos esforços já existentes. Através desta abordagem busca-se desenvolver cenários que contribuam com o processo de tomada de decisões para o desenvolvimento regional com base na sustentabilidade. Os diversos estudos e análises realizadas nos últimos anos demonstram a importância deste novo olhar sobre a região, considerando a extrema importância do papel dos rios que formam a maior bacia hidrográfica do mundo.
O desenvolvimento regional deve ser construído de forma participativa e estar focado na conservação da biodiversidade, tão importante para a sustentação dos modos de vida amazônicos e para a manutenção dos ciclos ecossistêmicos globais. Somando-se a isso, a necessidade de se manter a conectividade entre os elementos que compõem as paisagens naturais regionais, aquáticas e terrestres, baseado na busca por aumentar a escala nas ações empreendidas são pontos cruciais para a construção de um modelo de desenvolvimento responsável e sustentável para a região.
Desta forma, a Iniciativa Águas Amazônicas, inspirando-se nas conexões naturais propiciadas pelas águas e rios amazônicos, pretende conectar ainda os atores sociais envolvidos na busca de soluções sustentáveis para a região. As análises científicas divulgadas vêm no intuito de auxiliar a identificar processos chaves para serem considerados nas tomadas de decisão na região. A WCS acredita que a conservação das águas, paisagens e biodiversidade aquáticas é parte intrínseca da agenda socioambiental regional, assim ações exitosas dependerão de ações coletivas e participativas em prol da Amazônia.

  • Carlos Durigan é geógrafo, mestre em Ecologia, vive e atua na Amazônia há 20 anos. Participa de pesquisas multidisciplinares envolvendo estudos e trabalhos de campo em biodiversidade e sociodiversidade para subsidiar ações em Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

Carlos Durigan